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domingo, 11 de fevereiro de 2024

À margem da vida...


 À margem do meu corpo a vida a escorrer entre os dedos

Como um rio de águas lamacentas...um abraço de vazio

O silêncio preso nas mãos...o inferno da almas...os medos

As brumas...as sombras e o nevoeiro que envolve este rio


Entardeci...sou a noite adormecida...o silêncio gemendo

Um rosto sem idade...um sorriso sem cor...olhar sem luz

Um murmúrio sem voz e esta solidão em mim crescendo

Caminhando por entre as brumas carrego a minha cruz


Tudo é tempo...tudo é breve...uma noite num momento

Desfolhei a vida num palco onde nunca me encontrei

Escrevo-me e reescrevo-me e fico assim folha ao vento

Entre o mar e a tempestade no cais da ilusão naufraguei


Perdi o norte...no caminho agreste gastei meus passos

Fiquei em ruínas e esvaziei-me numa casa assombrada

Nua de mim...envolvi-me no silêncio dos meus braços

Deixei ficar no caminho a menina vestida de alvorada


Guardo nas mãos um grito...silêncio que o tempo deixou

Entre o céu e o infinito entre o amanhecer e o entardecer

O futuro...passado e o presente tudo em mim naufragou

Vida e morte...uma eterna ilusão num verso por escrever


O meu rosto é um espelho onde não me vejo não me quero

O meu olhar pétalas negras onde a claridade vai morrendo

O meu coração é um cais deserto onde já não me espero

A minha alma é lago negro que o tempo vai escurecendo


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho)