quinta-feira, 25 de julho de 2013
Talvez a noite te diga...
Talvez a noite te diga...do amor
ardente que no meu peito ficou
Da infínita tristeza...do tempo em que
não me amei...do cansaço
Talvez a noite te conte do frio que os
meus desejos amordaçou
No silêncio do meu corpo...esquecido
da ternura de um abraço
Talvez a noite te diga...do lugar frio
onde a ausência adormece
Deitada sobre os véus negros da
ilusão...onde morreu a ternura
No lugar vazio da espera...onde o meu
corpo gelado amanhece
Preso nos braços dolentes da
noite...onde o teu corpo é lonjura
Talvez a noite te diga...da dor que me
queima o corpo e a alma
Que me rasga a pele...que me tortura os
sentidos...que me fere
Talvez a noite te conte dos teus
silêncios...das minhas mágoas
Dos teus lábios gelados...beijando o
meu corpo nú de mulher
Talvez a noite te diga...do Inverno
frio que cobre os meus braços
Das carícias abandonadas na minha pele
vestida de esquecimento
Ébria de solidão e embalando na noite
imensa os meus cansaços
Nas mãos despidas de ternura...na
solitária cama onde me deito
Talvez a noite te diga...dos instantes
brancos...do sono acordado
Dos lençóis vestidos de
desejo...cobrindo o meu corpo a sangrar
Talvez a noite te conte...do silêncio
que trago no peito sufocado
No grito a morrer dentro de mim...desta
dor presa no meu olhar
Talvez a noite te diga...da ternura dos
meus dedos...da distância
Dos meus lábios de fel perfumados...do
sabor amargo do beijo
Das últimas rosas que perfumaram o meu
corpo...da lembrança
Das sombras que desceram sobre mim...da
mordaça do desejo
Talvez a noite te diga...dos ecos de
solidão que o meu corpo sente
Da mulher que espera na luz da
madrugada por uma gota de amor
Da desilusão onde o meu corpo
anoitece...morrendo lentamente
Quando em ti me deito...coberta pelo
manto negro da minha dorterça-feira, 9 de julho de 2013
Que morte é esta que me afaga...
Que morte é esta que me afaga como se
fosse amor...que me gela o corpo como se fosse noite...que muros são
estes que me cortam os passos...que terra é esta que me chama num
canto de vento nos ciprestes numa melodia que ecoa docemente como se
fosse ternura...que mãos são estas que me tocam como se fossem
mármore e eu fosse nada.
Que morte é esta que na noite me
visita...me rasga o corpo e me beija a pele como se fosse a sombra da
minha alma e me leva por infinitos corredores como se fosse a última
morada das rosas...o último estertor da ilusão...o derradeiro beijo
da solidão onde tudo é delírio...céu e inferno...desejo e
loucura...sentir e não sentir esta morte que me tortura à flor da
pele...nas raias do medo.
Que morte é esta que me doi tanto e se
deita dentro de mim...que chora no meu regaço...bebe as minhas dores
e beija as minhas lágrimas como se fossem o meu rosto...que me
acaricia e me leva para as mãos frias da ausência nesse espaço
onde não há memória...nesse vazio infinito a que me quero entregar
como se fosses tu e adormecer serenamente como se fosse criança
ainda.
Que morte é esta que se veste de cetim
e que me olha enternecida e me chama para os seus doces braços de
solidão e desencanto...que me alimenta a alma e me leva para o leito
frio do amor como se o meu corpo fosse uma sombra quase bruma e eu
fosse chão.
Que morte é esta que me deixa
nua...que vem serena como a brisa afagando o meu corpo e pronunciando
docemente o meu nome como se fosse a carne da minha carne adormecida
no lençol púrpura dos amantes...sepúlcro onde emudecem todos os
gemidos de amor...no frio da memória.
Que morte é esta que me prende com os
seus longos braços e dança com a minha alma como se fosse o último
sopro de vida...o ultimo suspiro de desejo...a última ilusão de um
corpo sobre o meu corpo...como quem renasce para a vida...ou caminha
para a eternidade.
Que morte é esta que apenas os meus
olhos vêm...tão longe e tão perto...tão dentro e fora de
mim...num murmúrio do fundo do tempo...num pulsar de gestos
gastos...um tic-tac de relógios parados...na dor de querer e não
querer ver as folhas de Outono que vêm cobrir o meu corpo...as
andorinhas que vêm anunciar a Primavera onde não fui...o Verão
onde não estou e o Inverno onde sou amante desta morte que cobre
todo o meu ser como um afago de vento...um doloroso suspiro de amor.
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