sexta-feira, 25 de abril de 2014
Que as vozes não se calem...Que se cumpra Portugal
Deixem-me gritar...pelos
sonhos que de negro se vestiram
No abismo do hoje sem
amanhã...neste barco a ir ao fundo
Nesta janela de liberdade
que os cravos de Abril abriram
Pela carne
retalhada...clama poeta o teu grito ao mundo
Deixem-me gritar pelo
tempo de secura...as mãos vazias
Pelos orfãos da
esperança...pelos sonhos pisados no chão
Chorando Abril nascido em
flor...feito de esperas e utopias
Abre os olhos meu
povo...não deixes que tudo fosse vão
Deixem-me gritar...pelo
tempo futuro...de nuvens coberto
Pela liberdade com
fome...gritai poetas a noite deste povo
Lutai meu povo na rua...de
punhos cerrados e passo certo
É tempo de ressuscitar
Abril...é tempo de nascer de novo
Deixem-me gritar...pelas
Catarinas que clamam em nós
Desfraldem poetas a
bandeira das palavras...digam NÃO
Pelos que não sabem
gritar...emprestem-lhe a vossa voz
Soltem as palavras
poetas...que trazem guardadas na mão
Deixem-me gritar ...pelos
filhos da miséria...da escravidão
Por todos os homens que
dormem nos braços da incerteza
Deixem-me gritar...pelas
crianças a quem roubaram o pão
E pelas mães que embalam
os filhos no regaço da pobreza
Deixem-me gritar...pelos
grilhões que nos esmagam dia a dia
Por esta raiva que me
cresce no peito e esta ânsia aprisionada
Correndo à rédea solta
como um bramido de silêncio e agonia
Deixem-me apenas
gritar...por um Abril que já foi madrugada
Deixem-me gritar...pelos
cravos que de negro se cobriram
Pelas promessas rasgadas
com o chicote da desigualdade
Por todas as mães que
choram...pelos filhos que partiram
Deste chão que é
nosso...deste povo que já gritou liberdade
Não deixes poeta que a
palavra emudeça num grito sufocado
Grita poeta...as tuas
armas são as palavras...faz delas punhal
Faz desse Abril o mais
belo poema de amor jamais cantado
Que nunca mais as vozes se
calem...que se cumpra Portugal
sexta-feira, 11 de abril de 2014
É tarde meu amor...
É tarde meu amor...o céu
já não tem estrelas e o sol adormeceu esperando mais uma noite sem
gestos...tão tristemente silenciosa morrendo em cada sulco da minha
pele...em cada olhar vazio no fundo da madrugada onde nasce a solidão
e as minhas mãos adormecem vazias como quem afaga o silêncio...como
quem acaricia as últimas rosas que floriram no meu corpo.
É tarde meu amor...já
nem sinto a alma...o meu coração gelou...as asas estão quebradas e
os sonhos já não sabem voar...o meu corpo adormeceu deitado nos
meus braços...num lugar vazio por entre as cinzas da memória onde
talvez sejas apenas a recordação de um sonho onde não estou.
É tarde meu amor...mas
ainda te quero dizer que desejo a tua nudez acariciando os meus
dedos...o teu corpo no meu corpo como uma suave melodia de
Outono...como um poema escrito em silêncio nas minhas mãos de
espera...na minha boca murmurando desejos...na minha voz sussurrando
como quem pede...como quem morre na noite vazia.
É tarde meu amor...a
minha alma despiu-se de mim...a dor deixou de doer e as feridas vão
sarar com o tempo...na recordação do que fomos e na saudade do que
deixámos de ser e que ficou guardada num lugar que é apenas
meu...num instante que se perdeu na memória do tempo onde se
desfizeram em cinzas as últimas chamas de um verão em Dezembro.
É tarde meu amor...já
não me consigo inventar para voltar a ser criança...no fundo dos
meus olhos já não há arco-íris...a minha boca apagou o sorriso e
o meu rosto perdeu a beleza de um tempo de onde não se pode
voltar...pedaços que não se podem juntar e mágoas que não se
podem apagar...amantes que não se conseguem inventar e mãos que não
se conseguem entrelaçar...sonhos que se desfizeram em cinza nos
corpos que não adormecem no mesmo leito.
É tarde meu amor...de nós
apenas restou o silêncio adormecido no meu olhar e o Inverno dos
teus gestos...os fios de lembranças que escorrem dos meus dedos como
carícias adormecidas...murmúrios silenciosos ecoando no entardecer
da ternura onde o teu corpo é apenas o espelho embaciado dos meus
sentidos e o meu corpo é apenas um corpo só.
É tarde meu amor...as
noites já não me sussurram desejos...a minha pele já não se
perfuma de amor e a minha boca é apenas a memória de um beijo num
murmúrio silencioso...um sopro de eternidade de quem já nada
espera.
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