quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
FELIZ NATAL
Mais
um Natal...
A
idade vai-nos dando a serenidade de ver sem o olhar de magia da
criança que fomos e que lentamente se vai esfumando para dar lugar à
triste realidade de um mundo onde a fraternidade e igualdade
prometida é só uma palavra e o Natal é apenas um dia marcado no
calendário...apenas um dia para quem as noites e os dias são
intermináveis...o frio e a fome a sua certeza...as calçadas frias a
sua cama.
É
Natal...as ruas estão iluminadas..luzes que não conseguem alumiar
tantas almas que caminham nas sombras procurando um canto para se
abrigarem e adormecerem com cobertores de papelão como se fossem os
despojos da noite...os dedos da nossa consciência...o silêncio da
nossa indiferênça a negar-lhe a existência.
É
mais cómodo para quem tem tudo não olhar...para não sentir e não
ver os rostos amargurados e cansados de quem já nada sente e nada
tem...nem certezas...nem sonhos...nem laços que os prendam na beira
do abismo...no fundo do fundo onde não há um rasgo de luz...apenas
o sabor amargo da solidão...os ecos profundos de silêncio nos
olhares de quem já nada espera.
Quando
será que os poderosos vão descer do seu pedestal dourado e vão
olhar para esses deserdados da sorte a quem estão a roubar toda a
dignidade que um ser humano merece e tem direito. Nesse dia será
enfim NATAL.
Feliz
Natal junto de todos que amam
Um
beijinho com o carinho de sempre
Rosa
Maria
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Vou partir por aí...
Vou partir por aí...vou
procurar o meu corpo que foi sem alma e sem mim...recolher os
destroços que ficaram espalhados pelos becos da escuridão...no
ventre da noite onde estendo as minhas mãos tentando prender o
infínito entre os dedos dormentes da vida...num instante de tempo
onde sou eu...génese de um momento não acontecido onde o tempo não
existe e os sonhos da poeta ficaram perdidos num horizonte
distante...num gesto de abandono das memórias congeladas por dentro
de mim...na bruma de uma noite sem luz...num beco sem saída.
Vou partir por aí...pelos
lugares que não existem...nas ilusões que persistem...no tempo que
deixou de ser tempo e onde os espelhos são lugares intangíveis no
fundo de mim...abismos de silêncio onde me afundo...no regaço da
terra...horizonte longínquo onde tardo em chegar.
Vou partir por aí bebendo
silêncios na solidão dos muros...no fogo extinto de noites de
sol...no lago sombrio da minha memória...na morada incerta do meu
corpo onde apenas a minha sombra me segue...só minha sombra.
Vou partir por aí...para
um lugar onde não exista tempo e mergulhar num caminho sem regresso
como se fosse o último instante entre o aqui e o além...alma e
corpo em algum lugar longe de mim...no fim de tudo...no princípio de
nada.
Vou partir por
aí...vestida de amargura com a alma em ferida e o corpo em chaga
procurando um lugar onde por um instante encontre uma manhã luminosa
no fundo das sombras...nesta beira caminho por onde me arrasto até à
hora do regresso para lá do azul que vai partindo dos meus olhos num
silêncio crepuscular...ténue luz que ilumina a minha sombra sentada
sobre as pedras da memória e vestida com o tenebroso véu do
esquecimento e vagueando por caminhos que nunca me levaram ao fundo
de mim.
Vou partir por aí...pelos
lugares desabitados do meu ser...procurando uma estrada que me leve
ao infinito para um tempo que deixou de ser meu...numa morada de
silêncio onde não me encontro...no árido labirinto que vou
percorrendo no vazio inabitável de lugar nenhum e onde vou enfim
deixar repousar o meu corpo e aceitar a noite sem retorno...a
plenitude da paz eterna.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
O outro lado de mim...
Há
um lado de mim que vive desejando partir e outro ficar
De
um lado a vida...do outro lado a morte a chamar por mim
E
depois para além disto que somos...o que vai de nós restar...
Talvez
um regresso ao ponto de partida ou o princípio do fim
Há
um lado de mim que vive envolto num véu de penumbra
Alma
pronta para nascer de novo e reencontrar aquela que era
Apagar
o meu nome e voltar a ser menina vestida de espuma
Percorrer
de novo o caminho onde ainda encontre a Primavera
Há
um lado de mim que vagueia sem destino...sem horizonte
Escondida
dentro de mim sem luz para iluminar a escuridão
No
sepúlcro onde espero para atravessar o outro lado da noite
Levando
nas mãos rosas vermelhas e no meu corpo a solidão
Há
um lado em mim que sobrevive para além da tempestade
Arrastando
esta alma que teima em ficar no lado de cá da vida
Mesmo
que o outro lado de mim esteja morto...que já seja tarde
Para
voltar a percorrer os lugares vazios desta alma sem guarida
Há
um lado em mim que é luz e chama...céu negro e inferno
Tão
presente e tão ausente esse tempo que passou e não ficou
Na
dor que já não doi...no branco que é negro...no frio eterno
Da
névoa que me ensombra o olhar...no sorriso que se apagou
Há
um lado de mim que me chora...outro que teima em sonhar
Na
noite que dorme comigo...na ausência que afaga meu corpo
Como
se fosse a sombra negra da morte que me está a afagar
Um
laço que me sufoca e que me vai matando pouco a poucosexta-feira, 27 de junho de 2014
DIZ-ME TRISTEZA...PORQUE CHORAS
Vieste na luz da
madrugada...com dedos de negridão
Rasgando a minha carne
como se fosses lava ardente
Sangue e cinza escorrendo
gota a gota do meu coração
Nesta dor que doi e me
grita nas veias...silenciosamente
Vieste na luz da
madrugada...com promessas de alegria
E as mãos cheias de
sonhos que morreram ao entardecer
Duma primavera
sangrando...aguçada lamina que me feria
Numa dolorosa e suave
agonia que retalhou todo o meu ser
Vieste na luz da
madrugada...trazias nas mãos rosas bravas
Que desfolhaste uma a
uma...juncando de sangue o meu chão
Como se fossem promessas
de amor com que me encantavas
Murmurando sobre o meu
corpo palavras de amor e traição
Vieste na luz da
madrugada... enfeitada de ternura e solidão
Vestiste em ti o meu rosto...derramaste sobre ele toda a mágoa
Que já não cabe no meu
peito e já não consigo prender na mão
Chegaste no fim dos meus
dias com uma rosa e uma lágrima
Vieste na luz da
madrugada...trazendo lembranças do passado
Pedindo-me um leito para
adormecer...um corpo para afagar
Com garras de abutre sobre
mim te deitaste num grito calado
Sem perguntares se te
queria a meu lado...chegaste para ficar
Vieste na luz da
madrugada...trazendo perfume de incenso
E do meu nome me
despiste...da minha alma me despojaste
Petrificaste o meu coração
e sobre mim repousas em silêncio
Partilhando nossas sombras
na noite que em mim derramaste
Vieste na luz da
madrugada...trazendo contigo antigas auroras
Que no meu olhar já não
brilham...em lágrimas se desfizeram
E antes que a noite
amanheça...diz-me tristeza porque choras?
Quando me abraças e
procuras se sabes que sempre te espero
Voltei...agradecendo
o carinho e apoio que me deixaram em cada palavra. OBRIGADA do fundo
do meu coração.
Não vou deixar que me vençam...que depois de “roubarem” um pedaço da minha alma fiquem a pensar que ganharam. Não me rendo a gente sem moral. Porque quem se apropria do que não é seu, para mim são pessoas desprovidas de carácter e consciência.
Não vou também deixar de lutar “PLÁGIO É CRIME” e assim deve ser tratado. Na altura certa postarei aqui os links de quem me plagiou.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Não vou deixar que me vençam...que depois de “roubarem” um pedaço da minha alma fiquem a pensar que ganharam. Não me rendo a gente sem moral. Porque quem se apropria do que não é seu, para mim são pessoas desprovidas de carácter e consciência.
Não vou também deixar de lutar “PLÁGIO É CRIME” e assim deve ser tratado. Na altura certa postarei aqui os links de quem me plagiou.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
quinta-feira, 12 de junho de 2014
PLÁGIO
Denunciar
o plágio é um dever de que escreve o que lhe vai na alma...o que
por vezes é tão doloroso de passar para o papel. É um bocado de
nós que deixamos em cada palavra e dói tanto ver esses retalhos
espalhados por qualquer canto. Por isso, não deixem de denunciar.
Passem
neste blogue onde estão alguns links de quem me plagiou (embora seja
apenas uma pequena amostra) dos plágios descarados.
Estou
muito magoada e sem vontade de continuar. Quero agradecer o carinho
de todos que me seguem e me deixam sempre palavras carinhosas.
E
agradeço também à Malu e a todos que fazem parte do Refugio pelo
apoio e carinho,
Um
beijinho
Rosa
domingo, 18 de maio de 2014
O que dizer...
O que dizer desse refúgio
secreto onde nua me deito e espero
Por uma gota de amor
diluída num cálice de veneno e ternura
Derramado num ramo de
rosas bravas...que quero e não quero
Que amo e odeio...que é
espinho e flor...que é sonho e loucura
O que dizer do frio das
noites...do cinzento baço das madrugadas
Dos sonhos perdidos na
memória...das rosas que deixei no tempo
Dos desejos amordaçados
na minha pele...das palavras caladas
Do amor que na noite
engana a solidão...feito de dor e lamento
O que dizer desse colar de
silêncio que aprisionei na minha mão
Dos lábios do beijo
esquecidos...das carícias frias dos teus dedos
Das vielas onde solitária
me perco nos becos escuros da solidão
Do manto que me cobre o
corpo de nocturnas cinzas...dos medos
O que dizer do alto muro
que se ergueu entre a noite e o desejo
Do corpo que morreu de
urgência...num amargo sabor a nada
Com os sonhos pousados na
noite e a boca pedindo um beijo
O que dizer de quem faz
amor no ventre frio da madrugada
O que dizer do dia em que
vesti o corpo de mar e naufraguei
Como uma gota de vazio a
diluir-se nesse mar de tempestade
Nesse abismo entre dois
destinos...o que sou e o que inventei
Fantasma de
mim...deambulando entre o inferno e a eternidade
O que dizer das ruas
tortuosas por onde sem destino caminhei
Das noites de penumbra
onde como uma louca fujo de mim
E da solidão que me
espera como um amante a quem me dei
Numa doce e gélida
quimera...onde me encontrei e me perdi
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Que as vozes não se calem...Que se cumpra Portugal
Deixem-me gritar...pelos
sonhos que de negro se vestiram
No abismo do hoje sem
amanhã...neste barco a ir ao fundo
Nesta janela de liberdade
que os cravos de Abril abriram
Pela carne
retalhada...clama poeta o teu grito ao mundo
Deixem-me gritar pelo
tempo de secura...as mãos vazias
Pelos orfãos da
esperança...pelos sonhos pisados no chão
Chorando Abril nascido em
flor...feito de esperas e utopias
Abre os olhos meu
povo...não deixes que tudo fosse vão
Deixem-me gritar...pelo
tempo futuro...de nuvens coberto
Pela liberdade com
fome...gritai poetas a noite deste povo
Lutai meu povo na rua...de
punhos cerrados e passo certo
É tempo de ressuscitar
Abril...é tempo de nascer de novo
Deixem-me gritar...pelas
Catarinas que clamam em nós
Desfraldem poetas a
bandeira das palavras...digam NÃO
Pelos que não sabem
gritar...emprestem-lhe a vossa voz
Soltem as palavras
poetas...que trazem guardadas na mão
Deixem-me gritar ...pelos
filhos da miséria...da escravidão
Por todos os homens que
dormem nos braços da incerteza
Deixem-me gritar...pelas
crianças a quem roubaram o pão
E pelas mães que embalam
os filhos no regaço da pobreza
Deixem-me gritar...pelos
grilhões que nos esmagam dia a dia
Por esta raiva que me
cresce no peito e esta ânsia aprisionada
Correndo à rédea solta
como um bramido de silêncio e agonia
Deixem-me apenas
gritar...por um Abril que já foi madrugada
Deixem-me gritar...pelos
cravos que de negro se cobriram
Pelas promessas rasgadas
com o chicote da desigualdade
Por todas as mães que
choram...pelos filhos que partiram
Deste chão que é
nosso...deste povo que já gritou liberdade
Não deixes poeta que a
palavra emudeça num grito sufocado
Grita poeta...as tuas
armas são as palavras...faz delas punhal
Faz desse Abril o mais
belo poema de amor jamais cantado
Que nunca mais as vozes se
calem...que se cumpra Portugal
sexta-feira, 11 de abril de 2014
É tarde meu amor...
É tarde meu amor...o céu
já não tem estrelas e o sol adormeceu esperando mais uma noite sem
gestos...tão tristemente silenciosa morrendo em cada sulco da minha
pele...em cada olhar vazio no fundo da madrugada onde nasce a solidão
e as minhas mãos adormecem vazias como quem afaga o silêncio...como
quem acaricia as últimas rosas que floriram no meu corpo.
É tarde meu amor...já
nem sinto a alma...o meu coração gelou...as asas estão quebradas e
os sonhos já não sabem voar...o meu corpo adormeceu deitado nos
meus braços...num lugar vazio por entre as cinzas da memória onde
talvez sejas apenas a recordação de um sonho onde não estou.
É tarde meu amor...mas
ainda te quero dizer que desejo a tua nudez acariciando os meus
dedos...o teu corpo no meu corpo como uma suave melodia de
Outono...como um poema escrito em silêncio nas minhas mãos de
espera...na minha boca murmurando desejos...na minha voz sussurrando
como quem pede...como quem morre na noite vazia.
É tarde meu amor...a
minha alma despiu-se de mim...a dor deixou de doer e as feridas vão
sarar com o tempo...na recordação do que fomos e na saudade do que
deixámos de ser e que ficou guardada num lugar que é apenas
meu...num instante que se perdeu na memória do tempo onde se
desfizeram em cinzas as últimas chamas de um verão em Dezembro.
É tarde meu amor...já
não me consigo inventar para voltar a ser criança...no fundo dos
meus olhos já não há arco-íris...a minha boca apagou o sorriso e
o meu rosto perdeu a beleza de um tempo de onde não se pode
voltar...pedaços que não se podem juntar e mágoas que não se
podem apagar...amantes que não se conseguem inventar e mãos que não
se conseguem entrelaçar...sonhos que se desfizeram em cinza nos
corpos que não adormecem no mesmo leito.
É tarde meu amor...de nós
apenas restou o silêncio adormecido no meu olhar e o Inverno dos
teus gestos...os fios de lembranças que escorrem dos meus dedos como
carícias adormecidas...murmúrios silenciosos ecoando no entardecer
da ternura onde o teu corpo é apenas o espelho embaciado dos meus
sentidos e o meu corpo é apenas um corpo só.
É tarde meu amor...as
noites já não me sussurram desejos...a minha pele já não se
perfuma de amor e a minha boca é apenas a memória de um beijo num
murmúrio silencioso...um sopro de eternidade de quem já nada
espera.
domingo, 23 de março de 2014
Fui além do meu limite...
Fui
além do meu limite...muito além das minhas forças..caí
Como
se fosse aquela flor que murchou regada pelo pranto
Que
escorre gota a gota na terra infecunda que já foi jardim
Rosto
que já foi alvorada e hoje é um sorriso de desencanto
Fui
além do meu limite...matei o que de bom havia em mim
Apaguei
o brilho do meu olhar e o sorriso que trazia no rosto
Abracei-me
ao meu corpo em silêncio e docemente adormeci
Sobre
as cinzas de quem fui...sepúlcro frio do meu desgosto
Fui
além do meu limite...amei e perdi...estive aqui e não vivi
Quis voar e não voei...inventei umas asas tecidas de ilusão
E
bordadas de desengano...que se quebraram e eu não senti
Tombei
na terra fria e adormeci nos braços frios da solidão
Fui
além do meu limite...cruzei as mãos sobre o meu peito
Em
prece chamei anjos e demónios...fui ao céu e ao inferno
Toquei
levemente o amor com os dedos frios do esquecimento
Entreguei
o meu corpo ao nada de um momento que foi eterno
Fui
além do meu limite...morreu o tempo nas minhas mãos vazias
Descobri
que para além dos meus sonhos não tinha nada de meu
Apenas
ficou presa em mim a lembrança deste corpo onde vivias
Como
um murmúrio silencioso...onde a ternura não amanheceu
Fui
além do meu limite...perdi-me da alma...ausentei-me de mim
Fiquei
esperando serena pela ausência que a meu lado adormece
Na
escura noite que de madrugada chega...sem ter luz...nem fim
Nos
lençóis cobertos de mágoas ...na ilusão que se desvanece
Fui
além do meu limite...nada me habita...nem a minha pele
Que
é um vulcão adormecido por entre as trevas do meu ser
Jardim
de rosas negras onde repousa o meu corpo de mulher
E
uma lágrima escorre silenciosa no meu rosto a entardecerdomingo, 2 de março de 2014
Deixa flores nas minhas mãos...
Quando as tuas mãos
geladas deixarem de me afagar na noite
E o silêncio escorrer
gota a gota entranhando-se no meu corpo
Desenhando nos umbrais do
tempo o meu nome no horizonte
Que o silêncio seja uma
valsa triste...eco de um sonho louco
Quando na noite
se despe o luar...escuto uma voz a soluçar
É uma rosa
negra a entoar docemente uma melodia de amor
Rasgo as sedas
do desejo...abraço o meu corpo e fico a sonhar
Tangendo na
alma ecos do passado num fado de mágoa e dor
Quando as palavras da
minha boca se apagarem e o meu olhar
Se transformar na cinza
fria onde bordo docemente a nostalgia
E quando o meu corpo
fremente de amor deixar de te procurar
É porque a minha alma se
despiu do corpo que foi teu um dia
Quando de violetas
perfumar o meu leito e de silêncio o olhar
Deixa que a ausência se
deite sobre mim e afague a minha dor
Que enfim me eleve ao céu
como se fosse uma estrela a brilhar
E quando o meu coração
parar...deixo-te uma lágrima de amor
Quando eu fôr apenas uma
flor tombada no chão...dá-me a mão
E guia a minha alma pelos
corredores infinitos do esquecimento
E quando a noite
cair...vem beber a saudade e brindar à solidão
Na madrugada fria da
lonjura...serás o mármore onde me deito
Quando o meu corpo descer
à terra e a minha alma subir ao céu
E minha pele se despojar de
tudo que a vestiu...acende uma vela
E antes que a bruma eterna
desça sobre mim o seu vaporoso véu
Deixa flores nas minhas
mãos como se eu ainda fosse primavera
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Queria regressar a mim...
Queria
por um momento apenas voltar à casa da minha infância...ao regaço
quente da ternura como quem volta ao útero materno...como quem
amanhece de um sonho que nos traz memórias de cheiros e imagens
guardadas na lembrança da menina que regressa como ave ao
ninho...sem saber se está chegando ou nunca partiu.
Como
se voasse volto à minha doce planície de espigas vestida e de
rubras papoilas salpicada...onde saciei a sede das lonjuras...nesse
horizonte por onde deixo o meu pensamento flutuar num tempo que
passava por mim como uma suave brisa tocando os meus cabelos ainda
negros...o meu rosto ainda sereno e onde os braços da minha mãe
eram a minha casa...o meu porto seguro.
Caminhei
tanto pelos labirintos da memória...pelos corredores da infância
procurando a ternura que me afagava o corpo e as estrelas que
brilhavam no meu olhar de menina...o tempo dos sorrisos...tão
efêmeros como tudo o que não volta...paisagens e lugares que guardo
dentro de mim...retratos a que o tempo roubou as cores e rostos que
apenas na memória do meu olhar ainda vivem.
Depois
de tanto caminhar com a saudade a doer na lembrança sinto que o
tempo já não é igual...que as noites já não são serenas e o sol
já se escondeu na imensidão da planície como se fosse o pavio de
uma vela a apagar-se...um manto de silêncio que me envolve num terno
abraço que me leva de volta à casa da minha infância como se um
anjo me levasse nas suas asas...como se uma nuvem me acariciasse o
olhar...como se mãos invisiveis tocassem as minhas num silêncio que
apenas a minha alma ouve.
E
serenamente antes
que chegue a alvorada...antes que o sonho se transforme em espuma
volto à realidade do aqui e agora e deixo o lugar da memória
sentindo um suave aroma de rosmaninho como se uma aurora antiga
afagasse o meu corpo ou se de repente ouvisse chamar o meu nome e
esse nome não fosse meu e essa voz que me chama fosse apenas o eco
longínquo de mim onde permanecem vivas todas as lembranças da
menina que de esperanças se veste em cada regresso.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Não! Não me peçam poemas de amor...
Não! Não me peçam
poemas de amor...os meus dedos estão frios
A minha alma já não me
pertence e o meu corpo partiu sem mim
O meu coração parou e os
meus sentidos estão inertes e vazios
As palavras já não as
encontro e o tempo parece não ter fim
Não! Não me peçam
poemas de amor...já não me sei inventar
Eu não sou eu...os meus
versos são poeira que o vento levou
Em mim tudo é
deserto...apenas há nostalgia no meu versejar
O amor está mais distante
que nunca e o meu sangue já secou
Não! Não me peçam
poemas de amor...as horas estão morrendo
A noite é escura e os
meus sonhos vão-se lentamente esfumando
A vida vai passando e o
meu corpo vai tristemente anoitecendo
A ilusão vai-se
desfazendo em espuma e a luz vai-se apagando
Não! Não me peçam
poemas de amor...já não há azul no meu olhar
No meu corpo já não há
vida e a chama do amor já não me queima
O papel onde me escrevi
enegreceu e as mãos já não sabem amar
As palavras são pedra
dura onde já não floresce nenhum poema
Não!Não me peçam
poemas de amor...sou árvore de folhas despida
As rosas rubras que me
adornaram o corpo um dia...já não têm cor
As marcas do tempo
deixaram o meu coração a sangrar em ferida
E com o coração
sangrando como posso escrever poemas de amor
Não! Não me peçam
poemas de amor...é Inverno no meu peito
Nas minhas veias já não
há poesia...o sangue que corre é mágoa
As lembranças são os
espinhos que cobrem o chão onde me deito
Sobre os sonhos que
rasguei onde em silêncio rola uma lágrima
Não! Não me peçam
poemas de amor...o meu corpo já não é flor
É crepúsculo no meu
olhar e no meu rosto já não há Primavera
E sem Primavera como é
que eu posso escrever poemas de amor
Não! Não peçam poemas
de amor a quem da vida já nada esperasexta-feira, 10 de janeiro de 2014
A VIDA...
Deixei
secar as flores dentro do livro que a vida me ofereceu
Adormeci
num sono profundo...na luz que cegou a escuridão
Na
voragem do tempo secaram as flores que o destino me deu
No
entardecer da Primavera...ficou uma rosa chamada solidão
Deixei
escorrer o tempo na concha das minhas mãos vazias
Provei
do cálice o veneno mais amargo feito de cicuta e fel
Entrelacei
amor com dor e partilhei com a noite a melancolia
Esqueci
a volúpia do desejo...apaguei a chama na minha pele
Deixei
secar o rio que corria no meu corpo na margem da dor
Como
se fosse a última lágrima a beijar cada pedaço de mim
Num
imenso caudal de páginas brancas onde escrevi o amor
Neste
corpo de ninguém...de onde nem cheguei e nem parti
Deixei
adormecer este corpo que me veste na porta da vida
Numa
prisão secreta onde deixei parar meu pobre coração
Nesse
frágil sopro de um instante em que fui morte vivida
Nesta
estrada por onde caminho...entre a luz e a escuridão
Deixei
anoitecer todos os sonhos nas asas feridas da ilusão
Num
grito incontido do meu corpo vestido de silêncio e frio
Num
eu que já não me pertence...na vida a soltar-se da mão
Um
punhado de fantasias com que preencho o meu vazio
Deixei
que a noite descesse sobre mim...tenebrosa e escura
Gastei
o tempo renascendo e morrendo...prisioneira de mim
Guardei
os despojos de quem fui e todas as gotas de ternura
Com
que engano a solidão do meu corpo vestido de carmim
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