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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ausentei-me de mim...


Ausentei-me de mim...fui para parte incerta...para viver comigo um grande amor...sem antes nem depois...seguir o inverso num caminho onde não me encontre...aconchegar a minha alma ao meu corpo...inteira e vazia...estrela cadente e ocaso...viver-me no avesso da vida...esquecer-me e descansar...nua de mim...instante único duma jornada que parece não ter fim...terrivelmente só e magoada.
Procurei-me no escuro...não encontrei as minhas mãos...encontrei apenas a pele do meu corpo...beijei-me e senti o sabor da noite...o frio das trevas...o orvalho das lágrimas...o gelo da morte...o abismo da solidão.
Sou uma mulher inventada por mim...filha de um sonho por acontecer...nascida dum acaso... feito de destroços...estou viva sem viver...olho-me e vejo apenas um profundo abismo...uma recordação ténue de mim...não me basto...grito o meu nome e não me encontro...apenas o meu eco me responde...em algum canto do meu corpo que sobrevive no esquecimento.
Fui presa por mim...julguei-me e condenei-me a um futuro sem mim...a um passado magoado...um presente ausente...sentenciei-me à morte...condenada quero morrer comigo e de mim...uma sombra errada e errante num tempo que não existe...numa realidade irreal...em lugar nenhum perto da loucura.
Queria apenas fechar as cortinas deste palco...gemer as últimas recordações...declamar as últimas memórias...dizer adeus ao último acto...fechar a porta às lágrimas...levantar-me do chão...agradecer os aplausos e ser atriz da minha própria vida...queria enfim desenhar uma PORTA...esculpir um sorriso na raiz da vida...e serenamente caminhar em silêncio em direcção a mim...num silêncio acolhedor feito de nostalgia...onde não me tenho nem me encontro.
Sou o meu reflexo...um plágio...invento-me e apago-me...finjo apenas SER...morro e renasco tanta vez...afundo-me na penumbra...perco-me de vista...silencío a palavra...vivo com a morte...não sei onde esqueci a vida.

Perdi-me entre as pedras...enterrei as flores da infância
Esqueci o caminho...perdi os traços e rasguei os laços
Esperei por mim...entristeci o olhar...perdi a esperança
Fiquei com as ilusões...adormecidas nos meus braços

Queria ser um outro eu...um outro caminho...outra vida
Um amanhã sem ontem...uma noite despida de pranto
Um tempo sem memórias...um olhar sem despedida
Rasgar o meu passado...fechar a porta ao desencanto

Queria emudecer a lágrima...calar a mágoa...o desalento
Desatar este laço que me prende...retroceder no caminho
Encontrar essa luz que se esconde por dentro do tempo
Secar este rio que vive em mim...prender o meu destino

Quero partir de mim...para onde repousam os meus restos
No silêncio dos meus passos...junto à campa onde me espero
Acorrentar as minhas mãos vazias...no eco dos meus gestos
O lamento de todos os sonhos...o vazio onde não me quero




RosaSolidão

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Só no meu sonho...


Só no meu sonho...só aí...o destino me dá asas para voar
O sol acaricia o meu corpo...o vento me corta as amarras
Só no meu sonho...existe um céu azul...a doce luz do luar
Um jardim de quimeras...uma música suave que me embala

Só no meu sonho...o amor é um instante de doces madrugadas
O passado e o presente se vestem de futuro...a noite adormece
Só no meu sonho...só aí...o meu coração cantará as alvoradas
A noite se faz dia...a claridade me afaga...a dor se desvanece

Só no meu sonho...só aí...sou mulher e me visto de ternura
As minhas mãos são a carícia...no teu corpo abandonadas
Só no meu sonho...sou a tua pele...um momento de loucura
Só aí...abro os meus braços...e entre as nuvens sou amada

Só no meu sonho...livre me entrego...sem medo e sem mágoas
E me deixo inundar...de manhãs douradas...de brisa e de mar
Só no meu sonho...vago ao sabor do vento...sem dor e lágrimas
Como uma noite calma...no sonho me entrego...olhando o luar

Só no meu sonho...o calor do teu corpo me abriga docemente
Te desenho e desejo nos meus braços...me faço pétala de rosa
Só no meu sonho...sou o fundo dos teus olhos...a tua semente
Uma réstia de sol...um poema de amor...uma prece silenciosa

Só no meu sonho...só aí o mar existe...as ondas me abraçam
O teu olhar me beija...a noite me afaga...me ilumina o luar
Os teus braços me prendem...as tuas mãos me enlaçam
Só no meu sonho...as rosas se desprendem do meu olhar

RosaSolidão



domingo, 17 de julho de 2011

Abandonei o meu corpo...


Abandonei o meu corpo...numa rua sem nome...num tempo sem tempo...no chão do meu desespero...na ausência da minha presença...entreguei-o ao vazio que me escorre dos braços...aos fantasmas que o percorrem...à noite que o vela...às pedras que são o seu leito...nas rosas secas que são o seu aconchego...deixei-o adormecer...distante...tão distante de mim.
Cinzas apenas...derradeira luz que o ilumina...tristemente anoitecido...tateando o silêncio de todas as noites sem memória...de todos os anseios sem tempo...de todos os abraços esquecidos...do toque que se perdeu nas madrugadas...do amor por fazer...nos beijos que têm gosto de sal...no nevoeiro que o encobre dos sonhos sem rosto...embalado nos braços frios do desengano...percorrido pelo fogo do desejo...despiu a seda que lhe adornou a Primavera...e vestiu as tristes folhas de Outono...ansiando um Verão que não vai chegar.
Entregue ao silêncio...erra sem destino...esbarrando nas vielas escuras...na embriaguêz da noite que lhe serve de abrigo...nas marcas feitas pelas desilusões escritas na pele...tatuadas na alma.
Todos os sonhos se esvaíram pisados pelos pés do destino...levados pelo vento...secaram os gestos...gritando na pele os anseios...chorando os devaneios que atravessam a carne nua...despido de afagos e sedento de carinho...vagueia por entre as nuvens do desencanto.
Meu pobre corpo...esqueceste o veludo que te cobria o olhar...esqueceste a menina vestida de laços...perdeste a flores que te escorriam dos dedos...o luar que te beijava os cabelos...as noites vestidas de Agosto e envoltas em rendas...da tua boca desapareceu o carmim...no espelho da vida desapareceu a tua imagem...do teu coração as rosas que o adornavam...vestiste os espinhos...tudo em ti grita a ausência...tudo em ti é um adeus...tudo em ti chora o amor...tens na pele a nostalgia das noites de Outono.
Esqueceste-te e vives amordaçado na mulher madura com sonhos de criança...pobre louco...triste louco...mutilado de amor...agonizando nos braços da solidão...carregas em ti todos os sonhos...todas as desilusões...todos os vazios que se fizeram os espinhos que te atravessam...no mar imenso que te percorre...despiste o vermelho da paixão e vestiste negro véu da solidão...fizeste-te noite...apagaste o luar que te inundava.



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Nos meus poemas...


Se não me encontras nos meus poemas...procura-me em ti
Se me queres sentir...procura-me nas entrelinhas das prosas
Na ausência das palavras...no silêncio infinito onde me perdi
Se não me encontras nos meus poemas...procura-me nas rosas

Se não me encontras nos meus poemas...procura-me na solidão
Na outra que tem o meu corpo...no outro lado dos meu medos
Não me procures nas palavras...procura-me no teu coração
Na loucura insana...que escorre solta do vazio dos meus dedos

Se não me encontras nos meus poemas...esquece meu amor
Essa não sou eu...é uma triste louca que de amor endoideceu
Procura-me na ponta do punhal...sangue a escorrer da minha dor
Encontra-me na sombra do teu corpo...onde a poeta morreu

Se não me encontras nos meus poemas...procura-me na saudade
Nas flores secas que caiem do meu peito...e em ti morreram
Procura nos sonhos desfeitos...restos perdidos da minha mocidade
Encontra-me nas frias madrugadas...que em mim anoiteceram

Se não me encontras nos meus poemas...procura-me na escuridão
Nas infinitas noites...nos dias desolados...nas mãos de ti vazias
Procura-me nos labirintos que habitam o meu corpo...na paixão
Encontra-me...no abismo da minha alma...na tristeza dos dias

Se não me encontras nos meus poemas...procura na sepultura
Encontra-me no profundo lago adormecido das minhas mágoas
Envolta no silêncio da noite...no fogo lento da minha loucura
Encontra-me e deita-me... no rio desfeito das minhas lágrimas


segunda-feira, 4 de julho de 2011

No Silêncio da Planície...


No silêncio da minha planície...procurei por mim...pelas flores
Encontrei as fitas...os laços de cetim...encontrei-me e não me vi
Senti o aroma do rosmaninho...o cheiro da terra e tantas cores
O reflexo da menina...espelho da mulher que no olhar adormeci

No silêncio da minha planície...procurei o meu rosto de alvorada
A casa onde nasci...os sonhos que lá deixei...o espelho do olhar
O luar que banhava o meu corpo...as rosas que deixei no tempo
Envolta na brisa suave...procurei-me no meu Alentejo sem mar

No silêncio da minha planície...nasci rosa...de seda vestida
Escrevi o primeiro poema...vivi o primeiro sonho...a ilusão
Fui sol nascente...manhã de primavera...perfume de verão
Fui o vento sul...fui aroma de poesia...fui o sorriso da vida

No silêncio da minha planície...eram breves as noites os dias
Cálidas as lembranças...doce e infinita a mão que me afagava
Cabelos ao vento...era o canto e a melodia...sonhos e fantasias
Era o Agosto de um poema...onde me esquecia e me encontrava

No silêncio da minha planície...fui ave inquieta...vagando no céu
Fui a rebentação das águas...sereia sem mar...bela papoila rubra
O ondular das searas...giesta agreste...pedaço de terra...outro eu
Fui flor silvestre...rosa em botão... menina vestida de espuma

No silêncio da minha planície...sonhei um sonho sem idade
Fui pássaro livre na imensidão...a minha casa era a esperança
Fui pétala de rosa...flor de alecrim...no meu sonho fui saudade
Fui o sorriso de uma noite de verão...nesse sonho fui criança