À margem do meu corpo a vida a escorrer entre os dedos
Como um rio de águas lamacentas...um abraço de vazio
O silêncio preso nas mãos...o inferno da almas...os medos
As brumas...as sombras e o nevoeiro que envolve este rio
Entardeci...sou a noite adormecida...o silêncio gemendo
Um rosto sem idade...um sorriso sem cor...olhar sem luz
Um murmúrio sem voz e esta solidão em mim crescendo
Caminhando por entre as brumas carrego a minha cruz
Tudo é tempo...tudo é breve...uma noite num momento
Desfolhei a vida num palco onde nunca me encontrei
Escrevo-me e reescrevo-me e fico assim folha ao vento
Entre o mar e a tempestade no cais da ilusão naufraguei
Perdi o norte...no caminho agreste gastei meus passos
Fiquei em ruínas e esvaziei-me numa casa assombrada
Nua de mim...envolvi-me no silêncio dos meus braços
Deixei ficar no caminho a menina vestida de alvorada
Guardo nas mãos um grito...silêncio que o tempo deixou
Entre o céu e o infinito entre o amanhecer e o entardecer
O futuro...passado e o presente tudo em mim naufragou
Vida e morte...uma eterna ilusão num verso por escrever
O meu rosto é um espelho onde não me vejo não me quero
O meu olhar pétalas negras onde a claridade vai morrendo
O meu coração é um cais deserto onde já não me espero
A minha alma é lago negro que o tempo vai escurecendo
Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho)