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domingo, 23 de março de 2014

Fui além do meu limite...


Fui além do meu limite...muito além das minhas forças..caí
Como se fosse aquela flor que murchou regada pelo pranto
Que escorre gota a gota na terra infecunda que já foi jardim
Rosto que já foi alvorada e hoje é um sorriso de desencanto

Fui além do meu limite...matei o que de bom havia em mim
Apaguei o brilho do meu olhar e o sorriso que trazia no rosto
Abracei-me ao meu corpo em silêncio e docemente adormeci
Sobre as cinzas de quem fui...sepúlcro frio do meu desgosto

Fui além do meu limite...amei e perdi...estive aqui e não vivi
Quis voar e não voei...inventei umas asas tecidas de ilusão
E bordadas de desengano...que se quebraram e eu não senti
Tombei na terra fria e adormeci nos braços frios da solidão

Fui além do meu limite...cruzei as mãos sobre o meu peito
Em prece chamei anjos e demónios...fui ao céu e ao inferno
Toquei levemente o amor com os dedos frios do esquecimento
Entreguei o meu corpo ao nada de um momento que foi eterno

Fui além do meu limite...morreu o tempo nas minhas mãos vazias
Descobri que para além dos meus sonhos não tinha nada de meu
Apenas ficou presa em mim a lembrança deste corpo onde vivias
Como um murmúrio silencioso...onde a ternura não amanheceu

Fui além do meu limite...perdi-me da alma...ausentei-me de mim
Fiquei esperando serena pela ausência que a meu lado adormece
Na escura noite que de madrugada chega...sem ter luz...nem fim
Nos lençóis cobertos de mágoas ...na ilusão que se desvanece

Fui além do meu limite...nada me habita...nem a minha pele
Que é um vulcão adormecido por entre as trevas do meu ser
Jardim de rosas negras onde repousa o meu corpo de mulher
E uma lágrima escorre silenciosa no meu rosto a entardecer

domingo, 2 de março de 2014

Deixa flores nas minhas mãos...


Quando as tuas mãos geladas deixarem de me afagar na noite
E o silêncio escorrer gota a gota entranhando-se no meu corpo
Desenhando nos umbrais do tempo o meu nome no horizonte
Que o silêncio seja uma valsa triste...eco de um sonho louco

Quando na noite se despe o luar...escuto uma voz a soluçar
É uma rosa negra a entoar docemente uma melodia de amor
Rasgo as sedas do desejo...abraço o meu corpo e fico a sonhar
Tangendo na alma ecos do passado num fado de mágoa e dor

Quando as palavras da minha boca se apagarem e o meu olhar
Se transformar na cinza fria onde bordo docemente a nostalgia
E quando o meu corpo fremente de amor deixar de te procurar
É porque a minha alma se despiu do corpo que foi teu um dia

Quando de violetas perfumar o meu leito e de silêncio o olhar
Deixa que a ausência se deite sobre mim e afague a minha dor
Que enfim me eleve ao céu como se fosse uma estrela a brilhar
E quando o meu coração parar...deixo-te uma lágrima de amor

Quando eu fôr apenas uma flor tombada no chão...dá-me a mão
E guia a minha alma pelos corredores infinitos do esquecimento
E quando a noite cair...vem beber a saudade e brindar à solidão
Na madrugada fria da lonjura...serás o mármore onde me deito

Quando o meu corpo descer à terra e a minha alma subir ao céu
E minha pele se despojar de tudo que a vestiu...acende uma vela
E antes que a bruma eterna desça sobre mim o seu vaporoso véu
Deixa flores nas minhas mãos como se eu ainda fosse primavera