Partirei com as andorinhas para um lugar onde o calor do sol me aqueça procurando algo que não recordo...serão asas...talvez rosas ou a ternura de um olhar perdido naquele momento que nunca aconteceu. Coisas vãs ou importantes...memórias de outros dias onde a alma é a essência de tudo que existe aqui e além do que os nossos sentidos alcançam.
Despeço-me de mim e deixo para trás a dor...estar aqui ou ali que importa se a memória arde como um vulcão. É-me indiferente que o meu corpo queime como se no inferno estivesse...que os meus pés caminhem sobre brazas ou caindo no abismo...fugindo de mim...da vida e do mundo.
Despeço-me de mim, mas para onde vou que não vá comigo e ir comigo é carregar uma bagagem que me pesa como chumbo...lembranças de tudo que não regressa...de tudo que não fui e de tanto que procurei sem um lugar para chegar...sem um regaço para descansar.
O tempo é nada e os meus olhos sem luz...as minhas mãos sem gestos e os meus braços sem forças nesta viagem tão longa neste lugar tão escuro dentro de mim onde já não penso nem sinto. Porque o mundo é um deserto...um surdo pranto de sofrimento e dor.
Arrasto as asas em terra e já nem quero saber o sentido da vida...nem o acto de respirar...nem o adeus mudo do meu olhar despedindo-se em silêncio das dores antigas e apagando tudo à minha volta...nomes e rostos...lugares e cheiros vão-se desvanecendo e o perto é tão longe e a vida doendo tanto nesta estrada tão longa e os meus passos já sem forças para me acompanharem na subida tão íngreme...buraco sem fundo.
Quero abrir as asas e voar para esse infinito onde mora a eternidade. Aqui tudo me pesa e o tempo venceu-me num amanhã que não existe...onde cada dia que passa é mais um passo para o fim e deixo-me ir procurando a paz que só se encontra num outro espaço num outro tempo de onde não se volta.
Não sei para onde vou ou se existo...percorri tantos caminhos, enfrentei ventos e tempestades. Vi os meus sonhos tombarem como um castelo de cartas e meu corpo envelhecer e a minha alma sepultada num palmo de terra fria...ruína de um coração procurando forças para a última viagem.
E sei que por mais que eu caminhe não encontrarei os lugares que foram meus...o encantamento que só a inocência e o olhar puro da criança que fomos nos faz sentir...Tão longe e tão perto de mim.
Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)
Olá, querida amiga Rosa!
ResponderEliminarUm texto muito emotivo que me tocou ao ler por diversas vezes.
O último parágrafo é de fazer as lágrimas rolarem... Ah! A inocência das crianças que fomos um dia!
Também quero partir como as andorinhas.
Tenha um Maio abençoado!
Beijinhos
Tem dias que de noite eu me pego nestes mergulhos da existência. Um vazio assombra ao ver e rever a longa jornada numa travessia feita de altos e baixos, muitas vezes povoadas de assombrações, que se não assustam, fazem-nos buscar o sentido das coisas e nos perdemos num vazio Rosa. Talvez seja nos propicio voar nas asas de uma andorinha na procura do verão, que possa colorir nosso outono cinza, que nos tenta fazer em cinzas. Vamos seguir neste resgate da criança que fomos, que mora dentro de nosso coração.
ResponderEliminarProfunda e bela inspiração da existência.
Beijo e feliz maio com flores e cores.
Impressionante cada parágrafo. Nos toca em cheio e enche de emoção! Linda inspiração! Tocante demais...beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarA vida é cheia de altos e baixos. Amanhã voce estará bem e textos como esse não farão sentido. Pra mim você continua perfeita escrevendo, mesmo quando escreve merda.
ResponderEliminarAnónimo... Quem não se identifica não pode ser boa pessoa. Falta coragem para assumir o que escreve. Quanto a escrever "merda" o problema é meu. Você seja homem ou mulher tem bom remédio. Não leia o que escrevo 😝
EliminarQuando nos sentimos longe e perto de nós mesmos, a tentação é fugir para algum lugar onde as sombras não nos persigam. Este seu texto melancólico e belo, mostra toda a emoção que guarda na alma. Gostei muito.
ResponderEliminarTudo de bom.
Um beijo.
Espero que esteja melhor. Força.
ResponderEliminar*
Fim de semana com Saúde, Paz e Amor.
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Poema:- Sonho Sensual
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Boa tarde poetisa, novamente aqui apreciando teus encantos das sagradas letras. A poetisa despede-se das dores. Mas logo voará para a imensidão lírica de sua alma inspirada, para no além, acima do tempo e do espaço, continuar em sua missão. Um fraterno abraço, beijos.
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