Ausentei-me de mim...fui para parte incerta...para viver comigo um grande amor...sem antes nem depois...seguir o inverso num caminho onde não me encontre...aconchegar a minha alma ao meu corpo...inteira e vazia...estrela cadente e ocaso...viver-me no avesso da vida...esquecer-me e descansar...nua de mim...instante único duma jornada que parece não ter fim...terrivelmente só e magoada.
Procurei-me no escuro...não encontrei as minhas mãos...encontrei apenas a pele do meu corpo...beijei-me e senti o sabor da noite...o frio das trevas...o orvalho das lágrimas...o gelo da morte...o abismo da solidão.
Sou uma mulher inventada por mim...filha de um sonho por acontecer...nascida dum acaso... feito de destroços...estou viva sem viver...olho-me e vejo apenas um profundo abismo...uma recordação ténue de mim...não me basto...grito o meu nome e não me encontro...apenas o meu eco me responde...em algum canto do meu corpo que sobrevive no esquecimento.
Fui presa por mim...julguei-me e condenei-me a um futuro sem mim...a um passado magoado...um presente ausente...sentenciei-me à morte...condenada quero morrer comigo e de mim...uma sombra errada e errante num tempo que não existe...numa realidade irreal...em lugar nenhum perto da loucura.
Queria apenas fechar as cortinas deste palco...gemer as últimas recordações...declamar as últimas memórias...dizer adeus ao último acto...fechar a porta às lágrimas...levantar-me do chão...agradecer os aplausos e ser atriz da minha própria vida...queria enfim desenhar uma PORTA...esculpir um sorriso na raiz da vida...e serenamente caminhar em silêncio em direcção a mim...num silêncio acolhedor feito de nostalgia...onde não me tenho nem me encontro.
Sou o meu reflexo...um plágio...invento-me e apago-me...finjo apenas SER...morro e renasco tanta vez...afundo-me na penumbra...perco-me de vista...silencío a palavra...vivo com a morte...não sei onde esqueci a vida.
Perdi-me entre as pedras...enterrei as flores da infância
Perdi-me entre as pedras...enterrei as flores da infância
Esqueci o
caminho...perdi os traços e rasguei os laços
Esperei por
mim...entristeci o olhar...perdi a esperança
Fiquei com as
ilusões...adormecidas nos meus braços
Queria ser um
outro eu...um outro caminho...outra vida
Um amanhã sem
ontem...uma noite despida de pranto
Um tempo sem
memórias...um olhar sem despedida
Rasgar o meu
passado...fechar a porta ao desencanto
Queria emudecer a
lágrima...calar a mágoa...o desalento
Desatar este laço
que me prende...retroceder no caminho
Encontrar essa luz
que se esconde por dentro do tempo
Secar este rio que
vive em mim...prender o meu destino
Quero partir de mim...para onde repousam os meus restos
Quero partir de mim...para onde repousam os meus restos
No silêncio dos
meus passos...junto à campa onde me espero
Acorrentar as
minhas mãos vazias...no eco dos meus gestos
O lamento de todos
os sonhos...o vazio onde não me quero
RosaSolidão