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quinta-feira, 14 de março de 2024

A casa Mãe e tu dentro!


 A casa Mãe e tu dentro...eu menina com medo do mundo e tu abraçando a vida com coragem...e a memória de vozes perdidas no Outono de folhas pisadas que escondeu a tua voz...e a saudade que cabe numa lágrima e tu Mãe respirando nessa casa...respirando no meu peito e depois sobre o meu ombro...o corredor e as cadeiras onde batias na pressa de beber a vida e a lareira onde ao serão desfiavamos os nossos sonhos...o quarto e a cama onde nasci e criança adormecia nos teus braços.

A casa Mãe e tu dentro...de cinzas pelo chão e na parede o retrato...nas minhas mãos a lembrança das tuas. Fecho os olhos e dentro de mim ainda te vejo no lugar onde não existe tempo. Mãe sem ti tem sido muito difícil atravessar a vida onde a tua ausência nunca acaba e os teus passos ressoam nos meus sentidos num caminho sem regresso...Mãe tenho saudades de ti...de mim e do tempo...saudades do que nunca te disse e pena do que não me disseste. Desculpa Mãe por só agora te entender...queria voltar a ser criança e tu Mãe seres eterna.

A casa Mãe e tu dentro...quem saíu pela última vez e para sempre fechou a porta e eu mulher de cabelos da côr das nuvens...de rosto marcado pela vida e coração gasto pelo tempo.

Estou só de passagem Mãe e vou ao teu encontro...a vida é árida sem ti. Queria tanto que me desses a mão e me levasses docemente de regresso à infância...ouvir a tua voz a chamar por mim...aconchegar-me no teu peito e sentir de novo a quentura de um abraço a ternura de um beijo.

A casa Mãe e tu não estás...as lágrimas já não doem e a saudade é uma certeza que me vai acompanhar até ao fim e eu tão cansada desta jornada tão longa. Apenas restou o tempo que me fala de memórias de um outro tempo em que o meu sorriso era feliz e tu o meu aconchego.

A casa Mãe já nada me diz...essa casa que era o melhor lugar do mundo só porque tu estavas lá. Agora sou uma estranha...são só paredes que comigo cresceram...que respiram passado e cheiram a saudade e onde só dentro dos meus olhos está o teu rosto...o resto é silêncio.

Mãe! Está tão longe a inocência.


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)

domingo, 11 de fevereiro de 2024

À margem da vida...


 À margem do meu corpo a vida a escorrer entre os dedos

Como um rio de águas lamacentas...um abraço de vazio

O silêncio preso nas mãos...o inferno da almas...os medos

As brumas...as sombras e o nevoeiro que envolve este rio


Entardeci...sou a noite adormecida...o silêncio gemendo

Um rosto sem idade...um sorriso sem cor...olhar sem luz

Um murmúrio sem voz e esta solidão em mim crescendo

Caminhando por entre as brumas carrego a minha cruz


Tudo é tempo...tudo é breve...uma noite num momento

Desfolhei a vida num palco onde nunca me encontrei

Escrevo-me e reescrevo-me e fico assim folha ao vento

Entre o mar e a tempestade no cais da ilusão naufraguei


Perdi o norte...no caminho agreste gastei meus passos

Fiquei em ruínas e esvaziei-me numa casa assombrada

Nua de mim...envolvi-me no silêncio dos meus braços

Deixei ficar no caminho a menina vestida de alvorada


Guardo nas mãos um grito...silêncio que o tempo deixou

Entre o céu e o infinito entre o amanhecer e o entardecer

O futuro...passado e o presente tudo em mim naufragou

Vida e morte...uma eterna ilusão num verso por escrever


O meu rosto é um espelho onde não me vejo não me quero

O meu olhar pétalas negras onde a claridade vai morrendo

O meu coração é um cais deserto onde já não me espero

A minha alma é lago negro que o tempo vai escurecendo


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho)