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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Pedaços de Vida...


O tempo passará sempre...mesmo que o corpo morra ele continuará depois de nós...no fim do fim ele existirá e de quem fomos apenas vai restar uma doce recordação e em algum lugar as almas se encontram.
Há um tempo certo para colher as flores...um tempo certo para viver e para morrer e até lá vamos caminhando neste tempo que não existe mas que persiste e sinto-o devastando o meu corpo e afagando a minha alma.
Nada é para sempre...vive-se o momento e veste-se o tempo com um vestido de sonhos...reescreve-se o passado para enfrentar o futuro e tolerar o presente. É isto o tempo...é isto a vida...partir para onde não existe regresso...apenas com a certeza desse corpo mortal e da imensidão da eternidade.
Não sei o que fazer com o tempo e não sei o que fazer comigo...não sei o que fazer do amanhã...não sei o que fazer do meu corpo e do meu cansaço...não sei o que fazer das cinzas onde arderam todas as minhas ilusões...onde se extinguiu a vida.
A vida é uma dor que grita...um cárcere onde o tempo é um senhor absoluto... intervalo entre o chegar e partir...onde a escuridão cega a claridade no limbo onde tantas vidas sobrevivem no esquecimento.
Lembro nomes e rostos dos que partiram...retratos e memórias que vão perdurar no tempo...encontros e despedidas sem regresso...pedaços de vida espalhados aqui e além...recomeços e partidas...lembranças que trago coladas à pele como se fosse um adeus do tempo que começa a morrer.
Por vezes paga-se um preço demasiado alto pela estadia que para uns é um suave tapete de rosas e para outros um caminho de espinhos. Para uns uma muito breve passagem e para outros imensamente longa...demasiado longa.
Nada é igual ao que passou...nada se repete, apenas se acrescenta mais dor e sofrimento ao tempo...mais negrume à noite imensa que me veste e mais medo ao medo do medo.
É este o tempo...o meu tempo...supremo instante que precede a morte. Não sei a data nem a hora...estou esperando no cais da partida para o eterno retorno a casa.

Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)


terça-feira, 13 de setembro de 2022

É Outono meu amor


 É Outono meu amor...o meu rosto perdeu toda a candura

O meu corpo já não é mais flor...a minha pele não é cetim

As tuas mãos não são afago e os gestos perderam a ternura

Os meus cabelos embranqueceram...a boca já não é carmim


É Outono meu amor...o Inverno vem chegando tristemente

O sol já se apagou e a noite eterna vai descendo sobre mim

O tempo vai correndo sem parar e eu morrendo lentamente

De braços estendidos ao infinito caminho para o fim do fim


É Outono meu amor...enegreceram as rosas que me adornaram

A minha alma já partiu para o lugar de onde não se pode voltar

O meu corpo é da chama as cinzas...as ilusões já se apagaram

E vestida de noite embalo nos braços o silêncio para te esperar


É Outono meu amor...o passado não volta...o tempo não espera

E eu já estou morta sem morrer e continuo vivendo sem viver

Na dor silenciosa que não se ouve que vem do céu ou da terra

Que orvalha os meus olhos e amordaça e fere todo o meu ser


É Outono meu amor...a claridade já não ilumina a madrugada

A penumbra vai escurecendo o brilho que tinha no meu olhar

Quando o céu era azul e a noite um eterno manto de alvorada

Hoje sou estrela cadente procurando no infinito um fio de luar


É Outono meu amor...o meu corpo jaz sob mortalha ardente

E coberto de cinzas como se fosse uma pedra adormecida

Ou a chama gélida de uma vela a extinguir-se lentamente

E quando o meu tempo findar...afaga o meu rosto sem vida



Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho)

sábado, 20 de agosto de 2022

Sou a dor da Planície...

Sou a dor da minha planície...solitária e imensa...serena e melancólica embalando o abandono numa melodia triste e dolente como se fosse um suave manto de espigas douradas onde me deito e adormeço com a serenidade da criança que fui e a nostalgia da mulher que sou...terra e fogo a rasgar-me o corpo num desejo infinito de a essa terra me entregar como se fosse um fio de eternidade que me acaricía docemente.
Sou também a sede da planura...a inquietação do fogo queimando a terra...a raíz profunda do aloendro na margem do rio...o latejar das pedras silenciosas...sacrário de todos os gritos...murmúrio de todos os silêncios...abandono de todos os esquecimentos...matéria morta como eu.
Sou a sombra da claridade acariciando a dor no pó dos caminhos... o soluço de todos os instantes...a inquietude de todos os momentos que trago colados à pele...a essência do que sou...o sangue da terra onde pertenço...memórias e cheiros que guardo docemente dentro do meu coração e deixo-me ir nesse embalo...nesse voo para além do tempo.
Sou a ave ferida esvoaçando na solidão desse céu imenso com uma sede infinita de liberdade...uma vontade insaciável de voar para o regaço de todos os sonhos...para a paz de todos os instantes bordados a fios de silêncio e perfumados de crepúsculos.
Trago em mim a insaciável ânsia das lonjuras...a sede profunda de querer...o desejo do além...a atração do abismo no deserto que percorri desfolhando as rosas que esqueci no tempo...os espinhos que dentro de mim guardei...os versos que deitei ao vento...os sonhos murmurados nas noites sem fim.
Sou a planície que em mim chora a menina que fui na mulher madura que sou...uma flor desmaiada a entardecer como se fosse um grito de amor ecoando na solidão dessa planície onde vestida de seda fui princesa dum castelo sem morada e onde teci sonhos que se defizeram em espuma como se fosse a vida a apagar-se do meu olhar.
Sou a filha eleita da noite...sou do luar a ténue luz amortecida...um céu anil que brilha no meu olhar como o sol abrasador da minha planicíe dourada que me enleia e me veste de nostalgia e os meus olhos se fecham em oração quando em silêncio a ela me entrego como se fosse a noite morna que afaga o meu corpo numa doce loucura embalando os meus sentidos...numa eterna melodia onde a minha alma repousa suavemente como se fosse o doce leito da eternidade.
Talvez um dia volte a percorrer os caminhos da memória e deixar-me levar como se fosse uma brisa suave afagando as papoilas vermelhas de sangue...as searas verdes de esperança como se fosse um voo no tempo...uma lembrança dolorosa e serena que vou guardar para sempre no meu coração.
Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Por quem choras Poeta


Por quem choras poeta...sobre esse corpo gemendo de amor

Num sonho que finges sonhar...numa vida que finges viver

E essa alma sedenta de infinito e esse sorriso ferido de dor

E esse coração agonizando de mágoa e essa lágrima a doer


Por quem choras poeta...quem te cravou um punhal no peito

Quem escreveu com sangue o teu nome...quem te esqueceu

De quantos silêncios fizeste o teu grito...o vazio do teu leito

Diz-me: Quantas vezes morreste nesse corpo que não foi teu


Por quem choras poeta...errando de alma nua e mãos vazias

Quando a noite te arde na pele e o cansaço te pesa nos braços

Esse peso que carregas e vais carregar até ao fim dos teus dias

Espinhos que te ferem os pés...muros que te cortam os passos


Por quem choras poeta...que negrura é essa que tens na alma

Que tristeza é essa que te ensombra o olhar de dor e silêncio

Que agonia é essa que trazes no peito...que nunca se acalma

E a mágoa cravada no rosto e essa lágrima sabendo a incenso


Por quem choras poeta...que voz é essa que grita e emudece

E esse beijo morrendo na boca e essa chama na pele ardendo

E essa morte vestida de vida e essas mãos cruzadas em prece

E esse coração ferido de amor e esse espinho doendo...doendo


Por quem choras poeta...por quem gritas...por quem chamas

Que treva é essa que te cobre...que pranto é esse...que agonia

Nesses olhos rasos de lonjura...nesse corpo que já não amas

Que dor é essa que te afaga...que sombra é essa que te guia


Sabes poeta? Morrer não dói...o que dói é ter de viver

Querendo partir para o descanso eterno...mas ter de ficar

Fingindo que és feliz e morrendo lentamente sem morrer

Bebendo a vida em amargos goles...até ao instante final


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)