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domingo, 25 de agosto de 2024

Quando eu morrer!


 Quando eu morrer...quero repousar na minha planície dourada

Num manto de rosas vermelhas...deixa o meu corpo descansar

Rasga os silêncios e envolve-me num doce manto de alvorada

Deixa-me enfim meu amor...voltar ao meu Alentejo sem mar


Quando eu morrer...em branca espuma minha alma vagará

Vazia sombra...beijo de mar e pranto...eco da minha saudade

Porque demoras tanto brisa suave...doce vento que me levará

Quando um dia partir...pousa leve no meu corpo a eternidade


Quando eu morrer...cobre o meu rosto com o véu da saudade

Deixa nas minhas mãos um afago...no meu corpo rosas e lírios

Envolve-me num poema que fale de amor...de céu e eternidade

Deixa nos meus braços os sonhos...pedaços dos meus martírios


Quando eu morrer...ninguém fale da minha solidão...da dor

Vai para a terra comigo envolta na negra noite...no fim do fim

Vestida de saudade e de sonhos voarei no regaço frio do amor

Num corpo que não me pertenceu...volto ao lugar donde parti


Quando eu morrer...as minhas asas serão de sonhos e paz

Será de mármore o meu olhar...perdido no tempo...no nada

Levarei os meus anseios que deporei onde o meu corpo jaz

De alma nua partirei serenamente nos braços da madrugada


Quando eu morrer...volto à luz...volto ao pó...volto ao nada

Liberto e sereno vai repousar meu corpo enfim na terra fria

Fui uma sombra que pelo mundo passou triste e amargurada

E quando de mim nada mais restar...procurem-me na poesia


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Não sei se quero que o tempo me dê mais tempo!

Vim do fundo do tempo antes de ser vida e regresso a mim como quem volta ao ninho materno...ao aconchego da ternura. Sou uma ave que desistiu de voar. Sou o chão onde todos pisam...já nada me pertence nem o meu nome é meu. Sobrou tão pouco de tanto.

Dei tantos passos viajei por tantos mundos sem destino certo...lá longe no tempo onde a memória me sorria e as madrugadas tinham cheiro de alecrim e o meu corpo jovem flor.

Voltei ao outro lado do tempo onde todo o meu corpo era juventude...o meu rosto formosura e as minhas mãos pequeninas ainda estavam cheias de sonhos como se a vida fosse eterna e o amanhã uma suave Primavera onde queria escrever uma linda estória de amor...deixei que o fogo me beijasse nesse amor primeiro e tive tanta saudade de mim.

Aceitei que nada sei do tempo...tanto caminhei e não cheguei a lugar nenhum... Fechei os olhos à vida e tive de aceitar que o meu corpo envelheceu... que o meu rosto perdeu o brilho...que os meus olhos se vão fechar e que o meu reino não é deste mundo...é do lugar de onde não se volta.

O tempo tudo apaga e é tão tarde...dei ao tempo tudo que sou e já não sei que sonhos tinha. Tudo é fugaz...a vida é apenas uma passagem...uma tão breve passagem. O tempo não espera...tudo será eterno num instante.

Já não procuro o perfume das flores nem a doce suavidade das rosas

afagando a minha pele envelhecida pelo tempo e fustigada pelas dores da vida.Trago uma dor calada no fundo da alma e o cansaço de mais um dia...mais uma noite adormecendo em cama fria...gelando-me o corpo e a alma como uma lápide.

E se alguém disser que morri...vistam o meu corpo de diáfana seda e de rosas vermelhas cubram o meu leito eterno e não deixem que o meu rosto se dissolva no escoar do tempo. Chamem o meu nome para sentir que existi e fui alguém que por este mundo passou...sombra...mulher ou ave.

Hoje...apenas hoje quero adormecer perto de mim!


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)



sábado, 27 de julho de 2024

Cansaço


 Tenho no corpo cansaços...nas mãos pedaços de vento

Nos meus braços embalo desejos bordados de carmim

No peito flores envelhecidas...tecidas de dor e lamento

Nos meus olhos trago soluços e tanta saudade de mim


Adormece o meu corpo nas folhas de Outono envolto

Foi sol nascente...hoje é ocaso pelo tempo entristecido

Habitado por silêncios e vestido de penumbra jaz morto

Esperando a eternidade vai vivendo de saudade vestido


No meu corpo te esperei...na tua ausência me chorei

Na minha loucura te chamei como se chamasse a vida

Em cada poema te escrevi...em cada rima me desnudei

Em cada gole de solidão que bebi...sangrei esta ferida


Os anos passaram...os desenganos...as noites e os dias

Os sonhos que se desfizeram...as ilusões que morreram

Os carinhos que se perderam... nas noites tão sombrias

As rugas e os cansaços que meus olhos entristeceram


Morrem-me na memória...as Primaveras que não vivi

Num grito de despedida que tristemente grito ao tempo

Num beco escuro deixo escrito a sangue tudo que senti

Labirinto sem saída...passos perdidos do meu lamento


São lírios os meus olhos...magoados e tristes...sem vida

Negros e sombrios são da dor a agonia do amor a solidão

São o silêncio da noite escura...duas portas sem guarida

São da luz a escuridão...estrelas cadentes na imensidão


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)





terça-feira, 9 de julho de 2024

É por mim que grito


 É por mim que grito em cada anoitecer...em cada sonho...em cada noite triste e solitária...em cada amanhecer cansada e vazia.

É por mim que grito em cada novo dia...sou eu que desnudo a alma em cada palavra que escrevo...em cada silêncio que calo...em cada morte que me devora o corpo.

É o meu nome que chamo num sítio escuro e ermo dentro de mim...é a carvão que me escrevo...é a negro que me pinto na lápide fria onde me deito...no nevoeiro que me encobre e me esconde da vida.

É por mim que grito em cada olhar vazio...é com sangue que me escrevo e descrevo e é aqui neste papel amarelecido que dispo o meu manto e grito os meus sonhos...que deixo o meu pranto...que sepulto as minhas sombras e entendo as minhas mãos vazias...é aqui que deixo restos de chamas esquecidas por dentro do meu corpo.

É aqui que sou uma sombra sem nome...que grito à noite a urgência da pele...que sorrio tristemente de lábios frios e mãos vazias...que o silêncio me queima e a morte me dói...o vazio me sufoca...o negrume se desprende do fundo dos meus olhos e o espelho escurece.

Deixei as palavras escorrerem sangue com que me escrevo...desnudei-me em cada verso...chamei-te em cada rima...voei e perdi-me em cada letra...morri em cada poema...em cada lágrima que desagua em cada prosa...em cada silêncio nas entrelinhas de cada traço...em cada sussurro onde escrevi todos os sonhos de amor.

Guardei todas as palavras dentro dum livro onde não estás...numa estrada de silêncio onde não me encontro...num poema tecido de amor e amarelecido pelo tempo...envolto na penumbra das minhas mãos onde escrevo os teus passos num verso sem nome onde deixo uma lágrima morrer dentro de mim.

É aqui que relembro os meus sonhos adormecidos sepultados neste papel lido e relido. É aqui que choro pela vida e chamo pela morte.


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )