Refugio-me no silêncio da noite e lado a lado com as minhas sombras descanso as mãos no meu corpo e abraço o meu olhar com um sorriso triste. Pouso a minha alma na solidão que me consome...instante infinito de promessas esculpidas no meu corpo onde guardo no silêncio da minha pele os beijos ausentes na madrugada...presos nos grilhões da ausência...na cinza das ilusões...nos caminhos escuros onde vagueia tudo o que sobrou dos sonhos.
Refugio-me no silêncio da noite e escrevo-me com o sangue que me escorre das mãos vazias onde as palavras são asas feridas...rimas desfeitas de um poema que ficou na memória dos dedos...nos segredos do vento...nas folhas desfeitas dos braços...no vazio dos abraços...no queixume da noite imensa que me enlaça e me prende...nos anseios que me sufocam...no nada de um instante que se fez vazio.
Refugio-me no lado incerto da vida tentando apagar vestígios do passado e inventar-me num outro tempo...num outro lugar onde a Primavera afagava o meu corpo e o meu olhar tinha um sorriso feliz.
Refugio-me no outro lado do tempo no doce regaço da morte onde vou adormecer o meu cansaço e libertar-me enfim desta máscara com que vesti o meu rosto...destas feridas que não saram neste corpo que não é meu...desta alma sedenta de infinito.
Refugio-me por dentro do tempo que começa a morrer onde há ilusões abandonadas pelo chão...passos rasgados percorrendo o abismo...fantasmas sem rosto e sombras sem nome...sorrisos sem lábios e silêncios engolidos pela noite. Palavras emudecidas pela ausência como se fosse um murmúrio distante ecoando como um gemido...sem saber se é fora ou dentro de mim.
Refugio-me nas memórias cinzentas e agrestes agora que a tarde vai dar lugar à noite dos tempos e sinto que a vida passou sem me ver...como se em cada momento me dissesse adeus.
Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)