No mais fundo de mim corre o tempo...esgotam-se as horas
Morre-me o rosto no espelho...esvai-se a vida no meu olhar
Esqueço os caminhos e esvazio os meus braços nas demoras
Prendem-se os gestos e rasgam-se os momentos por revelar
No mais fundo de mim...vivo a sós no meu corpo de mulher
Grito e não me ouço...vejo-me e não me pressinto...anoiteci
Eternizando a noite no silêncio do tempo na solidão da pele
No instante dos sentidos quero ficar assim...longe de mim
No mais fundo de mim há um mar revolto por onde navego
Uma alma inquieta esquecida de ser...uma derradeira ilusão
Uma voz que cala meus sonhos...a quem vazia me entrego
Vestida de Outono caminho pelas vielas escuras da solidão
No mais fundo de mim adormece a noite...de mim cansada
Num silêncio tão gritante numa presença tão de mim ausente
Num instante tão presente...uma prece no meu corpo sufocada
Nas noites de ternura tão despidas...apenas a solidão me sente
No mais fundo de mim...trago uma Primavera a anoitecer
Uma rosa negra partilhando a minha dor...na vida que morreu
No meu coração trago uma ferida a arder...um espinho a doer
No nada que nunca serei...um instante que guardei...outro eu
No mais fundo de mim é noite fria...o Inverno goteja mágoas
O meu corpo grita desejos tateando a escuridão...o frio o nada
Nas minhas mãos apenas guardo o sabor amargo das lágrimas
Fogo adormecido das cinzas esperando o renascer da alvorada
Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)