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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Amor Efémero


 É tão efémera a carne meu amor...como efémero foi o amor

Rasgando-me o corpo como punhal...sob o lençol de mágoa

Onde a dor anoitece em silêncio e o espinho adormece a flor

Que repousa na solidão tão fria como fria é esta doce lágrima


Que escorre tristemente do meu olhar inundando de penumbra

O meu rosto que chora por ti amor...ou será por mim que chora

No instante efémero em que me vejo menina vestida de espuma

Desabrochando rosa em botão...como se o tempo fosse o agora


É tão efémera a madrugada...como efémera uma noite de amor

Deitada sobre a tua sombra...repousa a minha alma já dormente

Nas minhas mãos já sem corpo...no meu rosto marcado pela dor

Adormecido nos teus olhos...onde vai envelhecendo lentamente


É tão efémera a paixão...como efémeras foram as rosas rubras

Que me adornaram na Primavera e que me vestiram de ilusão

Neste corpo que já foi rio e hoje é margem de negras espumas

Tão efémeros foram os sonhos...tão frio e chuvoso foi o Verão


Tão efémera foi a tua boca...como insaciável foi a minha sede

Silenciosa foi a minha espera pelas mãos que não me afagaram

Tão efémeras foram as horas em que fui em ti um amor ardente

E foste em mim presença ausente...restos que em mim ficaram


Tão efémero foi o sorriso que levemente aflorou ao meu rosto

Foi tão breve esse instante...tão doce esse momento de ternura

Como efémeros os dias em que senti na pele o calor de Agosto

Foi tão breve esse tempo em que me entreguei inocente e pura


Tão efêmeros os momentos em que a minha pele acariciaste

Como se fosses um corpo sem vida...uma perdida lembrança

Onde ardeu a nostalgia dessa mulher que em vida sepultaste

Tão efêmera a ilusão...como efêmero esse sonho de criança

Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho)


quarta-feira, 19 de junho de 2024

O que ficou da infância


O tempo leva o perfume de todas as flores...mas o perfume dos sonhos vai ficar para sempre no fundo do meu olhar...nas feridas que se colam na pele...numa aurora silenciosa onde guardei as pétalas que um dia afagaram o meu corpo. Fui flor no jardim da infância...serei mar...terra e luar. Beberei a vida procurando a felicidade mesmo que apenas por um instante...sonho ou ilusão.

Gosto de lembrar as searas maduras...as papoilas e as cigarras e o meu corpo de menina correndo por esses campos ao sol de Agosto e beijada pelo vento suão.

Quero ainda regressar à casa da minha infância…as primeiras ilusões...as primeiras lágrimas de amor...os primeiros versos como se o tempo não tivesse passado...como se os espelhos não me dissessem que é tarde...que o meu rosto perdeu a beleza...apenas naquela moldura sou eu. O resto é saudade.

Deixem-me sonhar...não me despertem e quando as minhas pernas não me sustentarem deixem-me sentir as emoções da minha juventude que guardo seladas no meu coração num tempo distante onde no meu olhar havia brilho e na minha boca um sorriso feliz.

Depois de tanto tempo devolvam-me a leveza da infância...deixem as rosas florirem no meu corpo e as mãos de minha mãe afagarem o meu rosto tão fustigado pela vida. Não sei quando cheguei nem quando parti. Não tenho memória do último beijo...do primeiro amor ou do último gesto de ternura.

É tarde e eu deixei de esperar essa felicidade que todos procuram e poucos encontram...é um sonho perdido...um caminho sem saída.

Tenho uma visita adiada à casa da minha infância e uma despedida por fazer à minha doce planicíe para ver novamente o vermelho sangue das papoilas salpicando o manto amarelo dos pimpilhos e o doirado das cearas.

Entreguei a minha vida ao tempo e o tempo roubou-me o sono da infância onde o meu mundo era eterna Primavera e eu um breve botão de rosa querendo florir. Mas o tempo passa e não vai só...leva com ele as memórias de uma vida...as mágoas e as ilusões. Tudo arrasta com ele.

O que fica de mim é o meu sangue em outros seres que são carne da minha carne...o meu mais belo poema de amor.


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)



terça-feira, 11 de junho de 2024

Trago as minhas mãos geladas


 Trago as minhas mãos geladas com o frio que vem das tuas

Embalando a dor que adormece no meu corpo...tão cansado

Cheio de silêncio e frio nas longas e solitárias noites tão nuas

No inferno da carne afagando a solidão que dorme a meu lado


Trago a noite presa nos meus dedos gemendo infernos de dor

Neste manto que arrasto na penumbra do meu frio entardecer

Neste leito de amargura onde vou bebendo o veneno do amor

Como se fosse um abraço mortal que me faz morrer e renascer


Trago no meu corpo lembranças dum tempo que não vai voltar

Folhas escritas com o sangue da paixão...que o Outono despiu

Gestos adormecidos nas minhas mãos tão dementes de esperar

Que um vento suave venha acariciar a minha pele cheia de frio


Trago na alma esta vontade de infinito...esta sede de vastidão

Este desejo de fechar os olhos e adormecer além do horizonte

Levando comigo todas as mágoas e os sonhos fechados na mão

E assim caminhar na calma do entardecer...triste como a noite


Trago dentro do meu coração uma rosa vermelha a sangrar

Um doce travo de veneno onde bebi toda a solidão do mundo

No meu rosto trago a lonjura do tempo que passou sem ficar

E deixou no meu corpo um vazio infinito...um grito profundo


Trago no peito um oceano de incertezas...um mar de sargaços

Um coração em chaga...uma ferida a sangrar...espinho a doer

Num lençol de mágoa um abraço quase vento nos meus braços

No meu olhar trago uma gota de ternura e uma lágrima a correr


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)