De esperas me visto...na noite me dispo nos espinhos me deito
Nas margens do sonho anoiteço...nos meus cansaços amanheço
De esperas me visto...de vazio me sacio e de solidão me enfeito
Entre o sono e o sonho vagueio...entre a luz e a treva adormeço
De esperas me visto...de ilusão me cubro...de dor me alimento
Neste corpo de ninguém que vive amordaçado dentro de mim
Perdido entre o tempo e o espaço tão descrente de sentimento
Adormecido em leito vazio onde nua me deito tão longe de ti
De esperas me visto...de vento me cubro em cinzas me desfaço
Caminho sem destino e deixo-me ir...sem rumo e sem retorno
Matei os meus sonhos...afaguei o meu corpo com ternura e aço
Farrapos de memórias que me embalam entre o sono e o sonho
De esperas me visto...na noite me liberto...vagueando perdida
Pelas vielas imundas da solidão faço amor comigo tristemente
Num murmúrio em silêncio como se fosse um corpo sem vida
Uma sombra quase morta que afaga meu rosto dolorosamente
De esperas me visto...ao tempo me dou...no chão frio adormeço
Inventando o amor que não amanheceu...mãos tateando o vazio
Nas ruas desertas que me ferem os pés...caminho sem regresso
Asas quebradas cortando-me o voo na vida que de mim partiu
De esperas me visto...nos braços da solidão de amor me sacio
Na noite que trago no corpo...no inferno que na pele me arde
Neste desejo que me queima a carne vestida de silêncio e frio
Onde tristemente percorro os caminhos agrestes da saudade
Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )