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domingo, 1 de junho de 2025

De esperas me visto!


 De esperas me visto...na noite me dispo nos espinhos me deito

Nas margens do sonho anoiteço...nos meus cansaços amanheço

De esperas me visto...de vazio me sacio e de solidão me enfeito

Entre o sono e o sonho vagueio...entre a luz e a treva adormeço


De esperas me visto...de ilusão me cubro...de dor me alimento

Neste corpo de ninguém que vive amordaçado dentro de mim

Perdido entre o tempo e o espaço tão descrente de sentimento

Adormecido em leito vazio onde nua me deito tão longe de ti


De esperas me visto...de vento me cubro em cinzas me desfaço

Caminho sem destino e deixo-me ir...sem rumo e sem retorno

Matei os meus sonhos...afaguei o meu corpo com ternura e aço

Farrapos de memórias que me embalam entre o sono e o sonho


De esperas me visto...na noite me liberto...vagueando perdida

Pelas vielas imundas da solidão faço amor comigo tristemente

Num murmúrio em silêncio como se fosse um corpo sem vida

Uma sombra quase morta que afaga meu rosto dolorosamente


De esperas me visto...ao tempo me dou...no chão frio adormeço

Inventando o amor que não amanheceu...mãos tateando o vazio

Nas ruas desertas que me ferem os pés...caminho sem regresso

Asas quebradas cortando-me o voo na vida que de mim partiu


De esperas me visto...nos braços da solidão de amor me sacio

Na noite que trago no corpo...no inferno que na pele me arde

Neste desejo que me queima a carne vestida de silêncio e frio

Onde tristemente percorro os caminhos agrestes da saudade


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )