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domingo, 17 de novembro de 2024

Minha querida morte!


 Minha querida morte a minha dor é tão funda que não a consigo escrever e tão pesada que os meus ombros não a conseguem carregar .

Espera-me um lugar escuro e frio no Inverno que se aproxima...no fim do fim. Fiquei á porta do tempo...cheguei tarde á vida ou nunca cheguei...apenas por cá passei. Frágil passageira do destino.
Não sei se já nasci ou se estou morta. Muito difusa essa fronteira quando penso que na morte há tanta vida e em todas as vidas mil mortes. Talvez haja prazer na morte e quando o amanhã não chegar é porque o meu tempo terminou e partirei serena. Não tenho medo da morte...tenho medo da vida.

Minha querida morte estou sentada á tua espera como quem regressa a casa. Nada sei da eternidade...nem do céu ou do inferno. Não compreendo este mundo. A vida é um mistério e a morte uma certeza e o tempo foi apenas um empréstimo. Eu não me pertenço sou apenas uma ilusão. Um ser mortal e efémero. Depois de mim a vida vai continuar e a paz sonhada tocará o meu corpo e vão existir encontros e despedidas...novas flores vão nascer e novos amores acontecer. Apenas a minha estrada chegou ao fim e tudo vai continuar sem mim. Cada dia que passa a morte é-me mais familiar. Talvez uma irmã ou uma prima chegada e como se a procurasse deixo os caminhos que não trilhei...a vida que não vivi.
Minha querida morte és a deusa do meu aconchego...o sossego do meu cansaço. Abraço-te e digo adeus ao mundo enquanto deitas as tuas asas negras sobre o meu corpo exausto...És uma presença silenciosa a quem estendo os meus braços e digo do meu cansaço...do peso da vida...do amor e da dôr...do que não disse...do que não fiz.
E agora dorme meu coração que a noite dos tempos está chegando e tu estás cansado desejando encerrar todos os sonhos que não te foi dado viver. Já sinto o perfume da terra e só tenho pena de não mais olhar as rosas nem sentir o vento suão da minha Planicíe a afagar o meu rosto. A minha voz não mais será ouvida...serei apenas lembrança.
Só me dói deixar quem me fez viver...pedaços de mim que vivem em outros seres. Meus três amores...sangue do meu sangue e carne da minha carne. Quem mais amei nesta vida. Foram o meu altar...a minha razão de viver.

E...quando não precisar mais respirar encontro a paz! Eterno Retorno.

Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )