Minha querida morte a minha dor é tão funda que não a consigo escrever e tão pesada que os meus ombros não a conseguem carregar .
Espera-me
um lugar escuro e frio no Inverno que se aproxima...no fim do fim.
Fiquei á porta do tempo...cheguei tarde á vida ou nunca
cheguei...apenas por cá passei. Frágil passageira do destino.
Não
sei se já nasci ou se estou morta. Muito difusa essa fronteira
quando penso que na morte há tanta vida e em todas as vidas mil
mortes. Talvez haja prazer na morte e quando o amanhã não chegar é
porque o meu tempo terminou e partirei serena. Não tenho medo da
morte...tenho medo da vida.
Minha
querida morte estou sentada á tua espera como quem regressa a casa.
Nada sei da eternidade...nem do céu ou do inferno. Não compreendo
este mundo. A vida é um mistério e a morte uma certeza e o tempo
foi apenas um empréstimo. Eu não me pertenço sou apenas uma
ilusão. Um ser mortal e efémero. Depois de mim a vida vai continuar
e a paz sonhada tocará o meu corpo e vão existir encontros e
despedidas...novas flores vão nascer e novos amores acontecer.
Apenas a minha estrada chegou ao fim e tudo vai continuar sem mim.
Cada dia que passa a morte é-me mais familiar. Talvez uma irmã ou
uma prima chegada e como se a procurasse deixo os caminhos que não
trilhei...a vida que não vivi.
Minha
querida morte és a deusa do meu aconchego...o sossego do meu
cansaço. Abraço-te e digo adeus ao mundo enquanto deitas as tuas
asas negras sobre o meu corpo exausto...És uma presença silenciosa
a quem estendo os meus braços e digo do meu cansaço...do peso da
vida...do amor e da dôr...do que não disse...do que não fiz.
E
agora dorme
meu coração que a noite dos tempos está chegando e tu estás
cansado desejando encerrar todos os sonhos que não te foi dado
viver. Já sinto o perfume da terra e só tenho pena de não mais
olhar as rosas nem sentir o vento suão da minha Planicíe a afagar o
meu rosto. A minha voz não mais será ouvida...serei apenas
lembrança.
Só me dói deixar
quem me fez viver...pedaços de mim que vivem em outros seres. Meus
três amores...sangue do meu sangue e carne da minha carne. Quem mais
amei nesta vida. Foram o meu altar...a minha razão de viver.
E...quando não precisar mais respirar encontro a paz! Eterno Retorno.
Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )