Vive
no meu corpo alguém que já morreu...apenas o retrato
Da
menina que fui ainda existe...da mulher somente restou
Uma
sombra quase morta que dentro de mim ainda guardo
No
retrato amarelecido no tempo onde me vejo e não estou
Vivem
no meu corpo recordações perfumadas de silêncio
No
meu rosto pedaços de luz querendo romper a escuridão
Na
moldura enegrecida onde tristemente ainda permaneço
Nesse
olhar onde já não existe nenhuma réstia de ilusão
Vive
no meu corpo um desejo quase cinza...quase morte
Num
grito rouco e profundo ...lá bem no fundo de mim
Esse
fogo de amor perdido...bailando no ventre da noite
Embalando
nos braços a quimera do beijo que não senti
Vive
para sempre no meu corpo...esse sonho que sonhei
Quando
o sol se apagou e a noite deixou de amanhecer
E
perdida no meu olhar ficou...aquela lágrima que te dei
Um
perfume vago de saudade...pranto do meu entardecer
Vive
preso nas minhas mãos o crepúsculo...como um adeus
Travo
amargo com que teci as ilusões da menina da moldura
Que
ficou presa no espelho...como uma sombra que morreu
Neste
corpo que já não sinto...na minha alma que é lonjura
Vive
no fio da navalha a mulher que em vida se amortalhou
Tão
despida de ilusão neste abismo negro esculpido pela dor
No
meu rosto entardecido pelas marcas que o tempo deixou
Nesta
treva que me cobre...sepultei todos os sonhos de amor