quinta-feira, 28 de junho de 2012

LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA " NA CORDA BAMBA"


VENHO DEIXAR O CONVITE PARA O LANÇAMENTO DA COLECTÂNEA “NA CORDA BAMBA”, ONDE TENHO A HONRA DE PARTICIPAR COM UM TEXTO.

SERÁ NO PRÓXIMO DIA 30 DE JUNHO, PELAS 20 HORAS, NA FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA, EM LISBOA.
SERÁ UM PRAZER CONTAR COM A VOSSA PRESENÇA

UM BEIJINHO E OBRIGADA
ROSA



Prefácio
Porque quem sente, sempre se sente em (des)equilíbrios (in)sustentados
numa bamboleante Corda Bamba, aqui, contamos histórias, as reais, as possíveis,
as impossíveis e as quase irreais.

As canetas correram, os teclados sofreram dedilhados,
as folhas de papel amachucado, e os visores, quase apagados,
viveram histórias incontáveis, que se contam ao correr da pena, ao correr dos dedos,
ao correr de uma alma que se sente num fôlego ou num suspiro.
Histórias que correm a uma velocidade incontrolável.

Histórias reais, sentidas num fio de tinta, de fio a pavio e esborratadas em vidas sem relatos.
As nossas histórias, as nossas vidas, as histórias deles, as vossas vidas e a vida dos outros.

Realidades manuscritas, manuseadas,
elaboradas e manipuladas por quem sabe aquilo que quer contar.

Assim, cozinhámos uma Colectânea recheada de odores agridoces,
de sabores metálicos, de suspiros salgados, de doces desencontros e de picantes encontros.

Aceitaram o nosso desafio e contaram-nos tudo aquilo que queríamos ouvir!
Foi um grito encorajado para quem escreve sem medo de se deixar cair, sem rede e sem sustento.

Histórias de uma vida qualquer!
Na Corda bamba!

 Teresa Maria Queiroz

http://pastelariaestudios.blogspot.pt/

Lá...no fundo do nada


Lá...nesse lugar do nada...minha alma voará solta na imensidão
Em translúcida serenidade...branca e leve...em solitária alegria
Sem lembranças do tempo passado...com uma rosa presa na mão
Voarei nas asas do vento suave...fecharei os olhos à melancolia

Lá...nesse lugar incerto onde não há tempo...voarei serena
Cruzarei as mãos sobre o meu peito...adormecerei em paz
Entre as sombras feitas de instantes...deixo a imagem terrena
Caminharei solta e livre...para o lugar onde o meu corpo jaz

Lá...no fundo do labirinto...nas margens dos sonhos perdidos
Submersa no cansaço da noite...vaga minha alma só e errante
Nas horas sombrias dos longos dias...na loucura dos sentidos
Lá...onde a solidão persiste...partirei no lamento dum instante

Lá...onde a ausência doi...onde o silêncio é um grito mudo
A eternidade é o regaço onde me deito...a luz que me veste
Os meus destroços são gestos esquecidos...abismo profundo
Lá...no vazio da morte...minha triste sombra de mim se despe

Lá...nesse lugar sem rosto...onde vagueiam as almas errantes
Na solidão do tempo...no fundo do nada...na noite sem fim
Onde caminho sem rumo...despojada de todos os instantes
Lá...onde cansada me deito...irão repousar os restos de mim

Lá...onde os meus sonhos voaram...os anseios adormeceram
O tempo deixou de ser tempo...caminhando em passos lentos
Para o fim do fim...perdida na distância...nas cinzas do tempo
Presa em lembranças...dos desejos que no meu corpo viveram

Lá...no fundo da memória...há um silêncio gritando vazios
Partidas sem regresso...gestos mudos...sem corpo nem alma
Desenhando no meu rosto o entardecer...os teus lábios frios
Gelados como a noite escura...desertos como a madrugada

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Escrevo...para não gritar


Escrevo para não gritar...escrevo para a noite ser mais suave...para não sentir que estou só...tristemente só...escrevo para não me esquecer e para te guardar dentro das minhas palavras...escrevo para que me acompanhes na noite que vive em mim...escrevo para que as letras te afaguem...para guardar as cinzas de um sonho que foi meu...duma Primavera que escureceu.
Escrevo para guardar dentro do meu corpo todos os silêncios que me vestem...todos os gritos que me emudecem o olhar...para expulsar a mágoa e lavar a amargura em cada poema...ressuscitar-te em cada rima...lembrar-te em cada traço.
Escrevo para calar o inferno que se desprende das minhas mãos...os vendavais que ecoam nos meus lábios...os medos poisados nos meus sonhos...os segredos presos no meu olhar...para não morrer no meu rosto a tua imagem...escrevo para me sentir viva em ti.
Escrevo para silenciar a dor e abrir estas grades que enclausuram o meu peito...soltar as amarras que me prendem...desapertar este nó que cala a minha voz...renascer em cada palavra...vestir de lembranças todos os abismos...soltar das minhas mãos todos os gestos.
Escrevo para soltar ao vento esta solidão que me sufoca...escrevo para aquecer as minhas mãos vazias...para calar este grito que me rasga...esta voz que em mim murmúra o teu nome num eco sufocado de palavras amarelecidas tocando a minha pele...ondas de tempestades arrastadas pelo mar que vive preso no meu olhar.
Escrevo como se as minhas mãos prendessem os farrapos gastos dos sonhos...pedaços de tempo atravessados pelo silêncio...enclausurados no meu corpo mágoa...no céu brumoso do meu olhar...nas paredes nuas da vida...nas mãos ausentes de ti...nos dedos dormentes da ternura.
Escrevo tocando o vazio das palavras que não existem...nas memórias que persistem...na noite que afaga a nudez do meu corpo...embalando o nada que me veste e possuindo a minha alma...gritando o cansaço de um momento perdido...num sorriso esquecido por dentro do silêncio da noite...como uma lágrima a escorrer da minha mão.
Escrevo na outra margem do tempo...no outro lado de mim...no regaço de todas as ausências...nas mãos frias da ilusão...nos braços nús do sonho...no branco silêncio da eternidade.
Escrevo os sons do silêncio...como se toda a ânsia do mundo estivesse presa nas minhas mãos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Que o silêncio se faça pedra...


Que o silêncio seja o único acorde...deste verso de mágoa e dor
Tatuado a fogo no meu corpo...na solidão de tanta noite despida
No eco da memória que me resta...nas águas inquietas do amor
Na voragem do tempo...que o silêncio seja uma palavra perdida

Que o silêncio seja o encontro das bocas...que ficaram por beijar
Dos desejos que ficaram por cumprir...na lápide das coisas vazias
Na noite onde adormecem os medos...no meu corpo a naufragar
Em completa rendição...a esse corpo entrego o silencio dos dias

Que o silêncio seja o tecto branco da noite...onde o sol adormece
Quando a luz se esvai do meu olhar...e a morte se crava no peito
Na fronteira difusa desse silêncio...onde a minha sombra anoitece
Etérea...triste...nua...adormecida sobre os espinhos do meu leito

Que o silêncio seja o eco das coisas perdidas...por dentro de mim
Vendaval de palavras...submersas na noite que me escorre da pele
Na obscura solidão do tempo...como se tivesse um nome...ou fim
Na renúncia dos sentidos...visto de negro o meu corpo de mulher

Que o silêncio seja o incêndio...de todas as palavras por dizer
A alvorada de todos os gritos...que nunca se souberam calar
A semente de todos os corpos...que morreram ao entardecer
O veludo de todos os beijos de amor...que ficaram por dar

Que o silêncio se faça pedra...no abismo profundo da noite
Que seja o pó do sepulcro...onde todos os sonhos naufragaram
Que a terra engula o meu corpo...que jaz morto antes da morte
Que o mar leve os destroços...dos restos que de mim ficaram