Deixem-me derrubar muros...gritar ao vento a minha vontade
Ser mulher e ser amante...vestida de cetim...ser luar de desejo
Deixem-me escrever um poema sem regras...amar sem idade
Adormecer nos meus lábios o teu corpo...inventar a eternidade
Deixem-me soltar este amor que me prende...que doi e magoa
Hoje quero gritar...estravasar o fogo que o meu corpo consome
Deixem-me soltar ao vento este anseio...esta sede...esta fome
Ser mulher sem amarras...saciar o desejo que em mim ecoa
Deixem-me dizer que quero...que desejo...que sou urgência
Que quero o beijo que me queima...o corpo que me chama
Deixem-me gritar bem alto...soltar os diques desta demência
Despir-me desta pele...envolver-te nesta boca que reclama
Deixem-me soltar os sonhos que calei...os desejos que amordacei
O amor que não fiz...os beijos que não dei...os braços sem mim
Deixem-me ser a perdida...nas vielas escuras onde me inventei
Na noite onde me enclausurei...me chorei...na mágoa que bebi
Deixem-me ser desejo e loucura...confundir o dia com a noite
Dizer que estou aqui sem hora marcada...ser mulher sem tempo
Deixem-me inventar-me e perder-me...caminhar sem norte
Ser anjo e demónio...morrer e renascer...sem dor nem lamento
Deixem-me desprender das mãos os sonhos...no infinito voar
Escrever desejos no meu corpo...despir-me dos meus cansaços
Deixem-me falar da solidão onde anoiteço...do amor por amar
Dos meus medos...dos segredos...da ternura dos meus braços