Cheguei com a noite meu amor...no corpo trago restos de Outono...cheguei sem mim...procurando por ti...procurando nas madrugadas a Primavera...com cheiro de rosas e promessas de amor...para me vestir de ternura...trago os braços suspensos no teu abraço...os lábios esperando o teu beijo...estou vazia.
Os meus sonhos naufragaram...a noite desceu sobre mim...o cais está cheio de lembranças...hoje já serenas...no tempo e no espaço...sou mulher cansaço...quase nada...ilusão apenas...no meu peito pedaços de solidão...nostalgia...o meu coração tão cheio de amor...e tão só...as mãos...tristes mãos...tão cheias de nada...procuro-me na tua pele...procuro-te no meu corpo...não me encontro...não te tenho.
Trago apenas palavras...palavras de amor...amarradas no meu peito...chamando por ti...num grito amordaçado...uma prece inacabada...olhar perdido...loucura e vazio...marés sem norte...caminho entre escolhos...sem morada certa...não sei de onde vim ou para onde vou...sem estrada...sem rumo...perdi-me no caminho da solidão...trago apenas as mãos...e um amor imenso...não sei o que fazer com ele.
Na escuridão há tanto silêncio meu amor...na noite há tantas sombras...tantos gestos que nada dizem...no passar das horas...no passar dos dias...no passar da vida...a angústia de mais um amanhecer...mais um adeus no rio dos meus olhos...
Acordei chorando meu amor...chamei por ti...não te encontrei...chamei a noite...minha amante e meu algoz...eterna companheira...metade de mim é dela...a outra metade é barco à deriva...pedaços de tempo arrancados do meu corpo.
A vida é insasiável meu amor...os caminhos são abismos...marcados pelo passado...perdidos no presente e ausentes no futuro...despidas as lembranças...no crepúsculo deste Outono...que me grita que é tarde...que os sonhos são apenas memórias que se perderam de mim...alheia à vida ...espero para além do tempo...perdida na fria claridade do desencanto...na noite de todas as noites...caminho com o Vento.