segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Calo os anseios!


 Calo os anseios...amortalho o desejo...sufoco o peito

Rasgo as palavras que me rasgam o corpo e anoiteço

Há um silêncio amargurado na solidão onde me deito

Mergulhada no abismo escrevo na alma este silêncio


Escorrem da minha alma rios de tristeza...gotas de dor

Escuros labirintos e desertos sem fim...sonhos perdidos

Lírios roxos presos nos meus olhos num grito de amor

Nos meus lábios sabendo a silêncio beijos adormecidos


Deito ao vento um adeus mudo que mora no meu olhar

Pelo último amor...pelo último sonho...pela última ilusão

Pelo passado e presente...pelo futuro que não vai chegar

A vida e a morte...rosa negra sepultada no meu coração


Silenciosa e triste junto os meus restos...pedaços de mim

Envolvo na solidão...fragmentos de céu negro e cansaços

No espelho enevoado do meu rosto procuro onde me perdi

Na noite que me cobre e me prende nos seus doces braços


O que a alma grita está no silêncio...no tempo que é noite

Nos meus olhos que são brumas...no coração que é vazio

Nos meus braços que são mar e onda enlaçando a morte

No fantasma deste amor...no abismo profundo deste rio


Caminho em silêncio na solidão da noite...passos errantes

Arde na pele este desejo...crava-se no peito esta escuridão

Cada espera é uma ausência...lamentos feitos de instantes

Há fantasmas nos meus sonhos...há vazios na minha mão


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Quando já nada importa


 Quando já nada importa. Digas o que disseres passa ao lado...as tuas farpas já não me ferem...a tua indiferença não me magôa. Já não há prazer nem dôr...estamos juntos e distantes...um abismo nos separa num caminho sem retorno.

Já nada tenho a perder...tudo o que poderia ter sido não existe...roubaste-me os dias...os anos...os sonhos e a vontade de estar...de ser.

Tudo foi efémero e já é tarde para recomeçar. Já não sei quem fomos ou se algum dia fui alguém para ti. As emoções estão gastas e as palavras nada dizem. O silêncio entre nós fere como uma espada perfurando o meu corpo e a minha alma.

Somos dois longínquos vultos...linhas paralelas que não se juntam...olhares que já não se encontram...bocas que não se tocam...mãos que não se enlaçam e corpos que adormecem distantes...vazios e ausentes.

Já nada importa...nada mais me inquieta. Cada dia que passa um pouco de mim morre. Já nem há mágoa...o meu corpo está entorpecido...não sinto nada.

Deixei de ser mulher...o frio que vem do teu corpo congelou o desejo que ardia no meu. O meu coração está seco e o amor que um dia senti morreu com a indiferênça.

A vida está passando e de ti nada mais espero. Eu não sou tua e tu não és meu...estamos presos no limbo de um passado que não volta...na nossa vida nada se consumou. O fosso que se abriu foi demasiado profundo como se fosse o túmulo da minha ilusão...o funeral de um grande amor.

Aquela mulher que se anulou como ser humano (porque estava apaixonada) já não existe. Essa mulher morreu quando a venda que tinha nos olhos caíu e finalmente vi que o que tinha sonhado só na minha cabeça existia. O principe idealizado só nos meus delírios era verdadeiro. Foste um remédio amargo que fui bebendo dia após dia...ano após ano...gota a gota...lentamente.

Hoje apenas há silêncio entre nós. Um mudo diálogo sem palavras e sem gestos...dois estranhos vultos sombrios e gélidos que se olham sem se ver...que se tocam sem sentir.

Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )