Sou o anjo triste que te procura e tu o canto suave do vento
Sou talvez a alma que te enlaça na escuridão da noite dolente
Sou a sombra da tua sombra vagando de lamento em lamento
Sou talvez a estrela cadente que na noite te alumia docemente
Sou a filha eleita da noite...do luar a ténue luz amortecida
Uma estrela solitária ecoando pelos céus as minhas mágoas
Num murmúrio em silêncio...vagueio de penumbra vestida
Entre o crepúsculo e a alvorada escrevo teu nome nas águas
Sou um retrato amarelecido...espelho de outra vida...outro eu
Pedaços de quem queria ser...restos adormecidos de quem sou
Uma recordação ténue e distante...daquela que fui e já morreu
Um rosto entardecido de uma Primavera que o tempo apagou
Sou flor ao vento...folha de Outono arrastada pelo vendaval
Derramei as cicatrizes...mastiguei espinhos e lambi as feridas
Perdida de mim apaguei as ilusões e desenhei a negro o olhar
Nas mãos prendi o tempo...na noite deixei as rosas esquecidas
Sou o que de mim restou...pedra parada por dentro do tempo
Na imensidão do vazio...no avesso de mim...no lugar do nada
Onde os caminhos não têm saída erra meu corpo em lamento
Vestida de desalento...alma perdida nas brumas da madrugada
Sou um rio sem foz...um turbilhão...um corpo sem margem
A gargalhada da vida...a agonia da noite...a dança da morte
Despenhei-me no abismo e desenhei na bruma a tua imagem
Adormeci a mágoa...estanquei o sangue e caminhei sem norte
Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )