sábado, 28 de setembro de 2024

Sou o anjo triste que te procura!


 Sou o anjo triste que te procura e tu o canto suave do vento

Sou talvez a alma que te enlaça na escuridão da noite dolente

Sou a sombra da tua sombra vagando de lamento em lamento

Sou talvez a estrela cadente que na noite te alumia docemente


Sou a filha eleita da noite...do luar a ténue luz amortecida

Uma estrela solitária ecoando pelos céus as minhas mágoas

Num murmúrio em silêncio...vagueio de penumbra vestida

Entre o crepúsculo e a alvorada escrevo teu nome nas águas


Sou um retrato amarelecido...espelho de outra vida...outro eu

Pedaços de quem queria ser...restos adormecidos de quem sou

Uma recordação ténue e distante...daquela que fui e já morreu

Um rosto entardecido de uma Primavera que o tempo apagou


Sou flor ao vento...folha de Outono arrastada pelo vendaval

Derramei as cicatrizes...mastiguei espinhos e lambi as feridas

Perdida de mim apaguei as ilusões e desenhei a negro o olhar

Nas mãos prendi o tempo...na noite deixei as rosas esquecidas


Sou o que de mim restou...pedra parada por dentro do tempo

Na imensidão do vazio...no avesso de mim...no lugar do nada

Onde os caminhos não têm saída erra meu corpo em lamento

Vestida de desalento...alma perdida nas brumas da madrugada


Sou um rio sem foz...um turbilhão...um corpo sem margem

A gargalhada da vida...a agonia da noite...a dança da morte

Despenhei-me no abismo e desenhei na bruma a tua imagem

Adormeci a mágoa...estanquei o sangue e caminhei sem norte


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )




terça-feira, 10 de setembro de 2024

O que escrevo é o grito da minha alma!

O que escrevo é o respirar do meu corpo...o grito da minha alma...o bater do meu coração...o sangue das minhas veias a escorrer das minhas mãos...tão branco como as memórias do tempo...tão negro como a dor que guardo no peito.

O que escrevo são escombros que já foram casa...silêncios que foram olhares...mudas palavras que só eu entendo...murmuradas em silêncio ou gritadas como se fosse o gemido da minha dor...mágoa que escorre gota a gota do meu coração...cinzas ardidas de cartas de amor impregnadas de nostalgia...entre o cinza e o azul.

O que escrevo é um canto profundo...lágrimas que escorrem do fundo da minha alma...retalhos dispersos do meu sentir...pedaços de mim tão cheios de nada e tão carentes de amor.

O que escrevo são palavras que me queimam as mãos...espinhos que me afagam a pele...lembranças aprisionadas que sangram e corroem o corpo e a alma...silêncios que trago amordaçados na boca...gritos presos na garganta como se fossem murmúrios de amor soluçando um suave pranto...um doloroso gemido.

O que escrevo são palavras pedra...palavras cal...palavras cinza...sombrias como a noite que me veste...a penumbra que me cobre...o silêncio que me dói...os espinhos que me ferem a carne...as mágoas que me rasgam a pele.

O que escrevo é o espelho de mim...o desnudar da minha alma...escuros labirintos por onde os meus sentidos me levam em lembranças dispersas...palavras adormecidas que trago a morrer-me nas mãos...um poema a sangrar-me no peito como se fosse um espinho que dói e magôa até ao mais profundo do meu ser.

O que escrevo é apenas cansaço...em cada palavra algo em mim morre e se desfaz como se fosse uma flor seca dentro de um livro guardado no tempo...um poema que ficou na memória como se fosse uma prece silenciosa que murmuro nas noites sombrias onde me encontro e fico inteira...como se fosse uma libertação...sentir o sangue correndo nas veias como lume queimando-me a carne...um punhal dilacerando-me as entranhas num doloroso silêncio onde me encontro comigo e é nesses momentos que a minha alma se liberta de mim e se entrega...nua.

Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )