sábado, 27 de julho de 2024

Cansaço


 Tenho no corpo cansaços...nas mãos pedaços de vento

Nos meus braços embalo desejos bordados de carmim

No peito flores envelhecidas...tecidas de dor e lamento

Nos meus olhos trago soluços e tanta saudade de mim


Adormece o meu corpo nas folhas de Outono envolto

Foi sol nascente...hoje é ocaso pelo tempo entristecido

Habitado por silêncios e vestido de penumbra jaz morto

Esperando a eternidade vai vivendo de saudade vestido


No meu corpo te esperei...na tua ausência me chorei

Na minha loucura te chamei como se chamasse a vida

Em cada poema te escrevi...em cada rima me desnudei

Em cada gole de solidão que bebi...sangrei esta ferida


Os anos passaram...os desenganos...as noites e os dias

Os sonhos que se desfizeram...as ilusões que morreram

Os carinhos que se perderam... nas noites tão sombrias

As rugas e os cansaços que meus olhos entristeceram


Morrem-me na memória...as Primaveras que não vivi

Num grito de despedida que tristemente grito ao tempo

Num beco escuro deixo escrito a sangue tudo que senti

Labirinto sem saída...passos perdidos do meu lamento


São lírios os meus olhos...magoados e tristes...sem vida

Negros e sombrios são da dor a agonia do amor a solidão

São o silêncio da noite escura...duas portas sem guarida

São da luz a escuridão...estrelas cadentes na imensidão


Rosa Maria (Maria Rosa de Almeida Branquinho)





terça-feira, 9 de julho de 2024

É por mim que grito


 É por mim que grito em cada anoitecer...em cada sonho...em cada noite triste e solitária...em cada amanhecer cansada e vazia.

É por mim que grito em cada novo dia...sou eu que desnudo a alma em cada palavra que escrevo...em cada silêncio que calo...em cada morte que me devora o corpo.

É o meu nome que chamo num sítio escuro e ermo dentro de mim...é a carvão que me escrevo...é a negro que me pinto na lápide fria onde me deito...no nevoeiro que me encobre e me esconde da vida.

É por mim que grito em cada olhar vazio...é com sangue que me escrevo e descrevo e é aqui neste papel amarelecido que dispo o meu manto e grito os meus sonhos...que deixo o meu pranto...que sepulto as minhas sombras e entendo as minhas mãos vazias...é aqui que deixo restos de chamas esquecidas por dentro do meu corpo.

É aqui que sou uma sombra sem nome...que grito à noite a urgência da pele...que sorrio tristemente de lábios frios e mãos vazias...que o silêncio me queima e a morte me dói...o vazio me sufoca...o negrume se desprende do fundo dos meus olhos e o espelho escurece.

Deixei as palavras escorrerem sangue com que me escrevo...desnudei-me em cada verso...chamei-te em cada rima...voei e perdi-me em cada letra...morri em cada poema...em cada lágrima que desagua em cada prosa...em cada silêncio nas entrelinhas de cada traço...em cada sussurro onde escrevi todos os sonhos de amor.

Guardei todas as palavras dentro dum livro onde não estás...numa estrada de silêncio onde não me encontro...num poema tecido de amor e amarelecido pelo tempo...envolto na penumbra das minhas mãos onde escrevo os teus passos num verso sem nome onde deixo uma lágrima morrer dentro de mim.

É aqui que relembro os meus sonhos adormecidos sepultados neste papel lido e relido. É aqui que choro pela vida e chamo pela morte.


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )