O que dizer desse refúgio
secreto onde nua me deito e espero
Por uma gota de amor
diluída num cálice de veneno e ternura
Derramado num ramo de
rosas bravas...que quero e não quero
Que amo e odeio...que é
espinho e flor...que é sonho e loucura
O que dizer do frio das
noites...do cinzento baço das madrugadas
Dos sonhos perdidos na
memória...das rosas que deixei no tempo
Dos desejos amordaçados
na minha pele...das palavras caladas
Do amor que na noite
engana a solidão...feito de dor e lamento
O que dizer desse colar de
silêncio que aprisionei na minha mão
Dos lábios do beijo
esquecidos...das carícias frias dos teus dedos
Das vielas onde solitária
me perco nos becos escuros da solidão
Do manto que me cobre o
corpo de nocturnas cinzas...dos medos
O que dizer do alto muro
que se ergueu entre a noite e o desejo
Do corpo que morreu de
urgência...num amargo sabor a nada
Com os sonhos pousados na
noite e a boca pedindo um beijo
O que dizer de quem faz
amor no ventre frio da madrugada
O que dizer do dia em que
vesti o corpo de mar e naufraguei
Como uma gota de vazio a
diluir-se nesse mar de tempestade
Nesse abismo entre dois
destinos...o que sou e o que inventei
Fantasma de
mim...deambulando entre o inferno e a eternidade
O que dizer das ruas
tortuosas por onde sem destino caminhei
Das noites de penumbra
onde como uma louca fujo de mim
E da solidão que me
espera como um amante a quem me dei
Numa doce e gélida
quimera...onde me encontrei e me perdi