Em cada noite te encontro poesia e a ti me entrego docemente
Como
um amante me enlaças e me possuis numa lenta agonia
Num
leito de rosas negras sobre mim te deitas languidamente
E
assim inteira e despida...a ti me entrego até ao raiar do dia
É
de poesia o manto que me cobre...é de sangue este lamento
Que
escrevo na alma a fogo...como se retalhasse o meu corpo
E
nas cinzas adormecesse esse murmúrio que lanço ao vento
Como
se fosse um adeus que me vai matando pouco a pouco
Contigo
percorro todos os desertos...vou ao céu e ao inferno
Desço
ao mais profundo de mim onde morro antes da morte
Num
obscuro lugar onde o que me vestiu permanece eterno
Rasgando-me
a carne ferida...como se fosse o beijo da noite
És
poesia...o fogo ardente que me queima a carne em agonia
Contigo
desço ao abismo profundo e insondável do meu Eu
E
juntas bebemos o fel da amargura em taça de melancolia
No
grito incontido da poeta que pensa que vive e já morreu
És
tu a deusa da minha solidão...regaço doce onde me deito
E
em silêncio te desfolho página a página...mágoa a mágoa
Arrancando
palavras feridas do mais profundo do meu peito
E
aí te guardo como se guardasse do meu olhar uma lágrima
És
o sangue que me sufoca...um punhal rasgando-me o corpo
Num
prazer quase divino de contigo beber o veneno da vida
No
nada dum momento em que vou morrendo pouco a pouco
No
regaço dos teus braços de ilusão...a ti me entrego despida