sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alma Errante...


A minha alma está acorrentada à vida que me escorrega entre os dedos...perdida no fundo do tempo...sem corpo e sem mim...como um livro esquecido entre as mãos do destino...pisado e amarrotado no chão...perdido entre as flores arrancadas do meu peito...entre o espelho e a memória...num silêncio sem rosto...escuro e enevoado destino
Já não sei escrever palavras de amor...dos meus dedos ausentaram-se os poemas...naufragaram as rimas...a poesia ficou branca e fria...vestiu-se de vazio e amortalhou os desejos que se desprendiam do meu corpo...quando ainda a noite se vestia de ti e na minha pele não havia este perfume de solidão...os meus lábios não estavam secos de mágoa...e no meu olhar não escorria este mar...onde naufragaram todos os gemidos de amor.
Fecho os olhos e não estou...na manhã do meu silêncio há uma porta que se fechou...na dormência que ficou nos meus braços...há um grito errante nas esquinas de todos os dias...na imensidão de todas as noites... no queixume do meu olhar há um murmúrio de cansaço repleto de memórias naufragadas...num mergulho silêncioso na alma.
Há um sítio na minha alma onde não estou...e no meu corpo há um vazio onde não estás...entre esse espaço há uma imensa solidão a doer...e tantas sombras em silêncio e tantos fantasmas gemendo...e tantas noites errantes...tantos passos em silêncio...tanta ilusão morta e tanto peito sangrando.
Há uma rima nos meus poemas onde não te encontro...mãos que não te sentem...por isso escrevem vazios e soletram mágoas...murmuram tristezas.
Há um espaço no meu leito onde é inverno...o calor não se sente...a luz não rompe a escuridão...onde há um abismo sem fim...uma presença ausente...um deserto onde a noite não me acaricia os cabelos...onde o toque não se faz ternura e apenas a noite se deita sobre o meu corpo.




sábado, 21 de janeiro de 2012

Sei do silêncio...



Sei do silêncio que cala os meus gestos...do amor inventado
Da ausência colada na pele...dos beijos adormecidos na boca
Dos sonhos por dentro da noite...dos desejos no corpo calado
Sei da mulher que vagueia sem rumo...tão triste...tão louca

Sei das flores que o vento acariciou...do tempo que as secou
Da chuva a escorrer do meu olhar...da eternidade dos sonhos
Do sol que se escondeu...da ausência que o meu corpo gelou
Sei da negrura que cobre o dia...das folhas secas de Outono

Sei do nada que sobrou dos sonhos...do tempo infinito
Dos caminhos onde me perdi...do mar onde naufraguei
Das mãos que seguram farrapos...da solidão que grito
Das ilusões que a noite matou...dos desejos que calei

Sei das águas estagnadas...dos rumos incertos no peito
Do nada que me inunda...do vazio no meu corpo suspenso
Do beijo preso nos gestos...do desejo amordaçado no leito
Sei das mãos onde naufragaram carícias...do mar imenso

Sei do sorriso que grita o silêncio...sei das noites sem fim
Do Inverno do meu leito...dos dias sem sol...dos gestos vazios
Sei do meu corpo a entardecer...dos gemidos que esqueci
Da pele que guardou os segredos...dos meus lábios frios

Sei do silêncio preso no olhar...da carícia no tempo esquecida
Do rio que corre lento no meu peito...da rosa seca na mão
Das cinzas tatuadas no meu rosto...da Primavera perdida
Sei da árvore despida...das folhas mortas...da desilusão



domingo, 15 de janeiro de 2012

Lembra-te de mim...


Lembra-te de mim...quando ouvires o pranto das rosas...eu parti
Quando nos teus sonhos não sentires a ternura do meu coração
Quando o silêncio gritar...sou eu meu amor do céu a chamar por ti
Quando ouvires um triste fado...são os acordes da minha solidão

Lembra-te de mim...quando a poesia não gritar meus lamentos
Quando as minhas mãos nas tuas arrefecerem...sou eu a partir
Quando meus olhos ficarem mudos...apagados...de luz sedentos
Quando sentires uma lágrima...é a minha alma para ti a sorrir

Lembra-te de mim...quando a noite chegar e o sol se esconder
Quando ouvires o pranto da madrugada...é o eco minha saudade
Quando sentires na boca o perfume das rosas...sou eu a morrer
Quando ouvires o meu nome...esquece-o...já se fez eternidade

Lembra-te de mim...quando de mim nem um poema restar
Quando dos meus dedos inertes...se esfumarem as prosas
Na minha boca se calarem as palavras...deixar de sonhar
Quando sentires uma lágrima...sou eu a partir com as rosas

Lembra-te de mim...quando ouvires um triste lamento...sou eu
Quando sentires no teu corpo calor...é o meu que te quer
Quando sentires os teus olhos chorarem...sou eu a olhar-te
Quando escutares um lamento...são os meu braços de mulher

Lembra-te de mim...quando na noite olhares a lua...sou eu
É o meu rosto que vês...envolto no sorriso do meu olhar
Quando adormeceres...recorda quem por amor se perdeu
Sente-me nas gotas de chuva...quando a saudade te tocar


domingo, 8 de janeiro de 2012

Despe-me o manto salgado...


Despe dos meus olhos o manto salgado...veste-me um sorriso de algas e quando o silêncio anoitecer...adormece a mágoa do meu corpo...prende o tempo numa carícia...solta os nós que me prendem...inventa um poente na noite...não me deixes morrer nos teus olhos...leva-me as ausências...as recordações feitas de nada...sepulta-as com o meu lamento.
Colhe as rosas que secaram no meu peito...desfolha-as e espalha-as ao vento...são raizes magoadas...despojos de amor...pedaços de mim desfeitos numa nuvem de silêncio...amanhece-me o corpo vazio e envolve-me nos teus braços errantes...prende nas tuas mãos a ausência que me escorre do corpo e quando a noite vier...rasga os meus sonhos magoados...sepulta-os com a minha solidão...são restos de ternura...fragmentos apenas...gotas de nada...pétalas negras vagando por dentro do silêncio do tempo...na distância onde ficaram suspensos todos os sonhos de amor.
Deixa as minhas mãos vazias tocaram o teu nome...os meus dedos nascerem na tua pele...murmura nos meus lábios a tua ausência...desenha na tua lembrança a minha dor...não te deixes morrer em mim e não me leias porque a saudade doi...o vazio magoa e as palavras são ecos perdidos...cinzas de sonhos esquecidos por dentro do tempo...rugas amordaçadas no peito...lágrimas que calam todos os silêncios e vestem todos os instantes.
Deixa-me chamar-te no silêncio da noite...nas horas que não existem...no Outono que perdura...no Inverno que me gela...deixa-me chamar-te como se ainda fosse Primavera e a eternidade tocasse as minhas mãos.



quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Labirintos...


Por dentro deste labirinto escuro...apenas sinto o vento
Os murmúrios silenciaram-se...o tempo guardou as palavras
Arrastou o último sorriso...a última mágoa...meu lamento
Fiquei à deriva na beira deste abismo...onde me seguravas

Mergulhei num rio de pedras...desaguei num mar de dor
Prendi o sorriso na noite...cruzei as palavras dentro da pele
Deitei-me num catre de espinhos...chorei a solidão do amor
Perdi-me na tempestade...abracei o meu corpo de mulher

Dentro do meu peito...procurei os sonhos...restos de amor
Um rascunho...uma ilusão...um poema que falasse de mim
Apenas encontrei mágoas...tristes poemas de lamento e dor
Encontrei apenas pedaços...e uma rosa seca...que lá esqueci

Era Outono quando chegaste...já eram gelo as minhas veias
Os sonhos eram a voz do sepulcro...de sombras era meu leito
Chegaste com a tempestade...o teu olhar foi um canto de sereias
Um raio de sol a entrar no meu corpo desfeito...senti-me vento

Na espuma deste mar...nas águas destes olhos...tento ver o norte
Procuro no vento...as folhas onde me escrevi...o sabor do sal
O céu azul sem fim...as estrelas que alumiavam a minha noite
Procuro no meu corpo os teus braços...na espuma deste mar

É de nevoeiro o cais onde te espero...de mágoas o tempo
É de solidão o barco onde navego...é de lágrimas a viagem
É de silêncio o corpo que te chama...é de ternura este lamento
É de dor este grito de treva este cais...de bruma a tua imagem