A minha alma está acorrentada à vida que me escorrega entre os dedos...perdida no fundo do tempo...sem corpo e sem mim...como um livro esquecido entre as mãos do destino...pisado e amarrotado no chão...perdido entre as flores arrancadas do meu peito...entre o espelho e a memória...num silêncio sem rosto...escuro e enevoado destino
Já não sei escrever palavras de amor...dos meus dedos ausentaram-se os poemas...naufragaram as rimas...a poesia ficou branca e fria...vestiu-se de vazio e amortalhou os desejos que se desprendiam do meu corpo...quando ainda a noite se vestia de ti e na minha pele não havia este perfume de solidão...os meus lábios não estavam secos de mágoa...e no meu olhar não escorria este mar...onde naufragaram todos os gemidos de amor.
Fecho os olhos e não estou...na manhã do meu silêncio há uma porta que se fechou...na dormência que ficou nos meus braços...há um grito errante nas esquinas de todos os dias...na imensidão de todas as noites... no queixume do meu olhar há um murmúrio de cansaço repleto de memórias naufragadas...num mergulho silêncioso na alma.
Há um sítio na minha alma onde não estou...e no meu corpo há um vazio onde não estás...entre esse espaço há uma imensa solidão a doer...e tantas sombras em silêncio e tantos fantasmas gemendo...e tantas noites errantes...tantos passos em silêncio...tanta ilusão morta e tanto peito sangrando.
Há uma rima nos meus poemas onde não te encontro...mãos que não te sentem...por isso escrevem vazios e soletram mágoas...murmuram tristezas.
Há um espaço no meu leito onde é inverno...o calor não se sente...a luz não rompe a escuridão...onde há um abismo sem fim...uma presença ausente...um deserto onde a noite não me acaricia os cabelos...onde o toque não se faz ternura e apenas a noite se deita sobre o meu corpo.