quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doi-me a solidão...


Perco-me nos caminhos e encontro-me nas encruzilhadas...abandono-me nas palavras e encontro-me nos pontos finais...dispo-me nos meus poemas para me encontrar nas entrelinhas...escrevo-me e fico sempre no outro lado de mim...tão perto e tão longe de ti...como o mar que afaga os meus olhos...e a tempestade que leva o meu corpo para o infinito onde te espero...para o vazio onde não te tenho...no labirinto onde não me encontro.
Sou um espaço em branco...um abraço frio do tempo...o resto que ficou esquecido entre as paredes nuas dos sonhos...esperando em silêncio pelo toque de uma mão...pelo anseio do desejo...pelo beijo que ficou entre a boca e o gesto...pelo colo ausente no vazio presente...rasgando a solidão de todas as noites...caminhando pelo escuro de todas as ruas...na estrada sem fim que prende os meus passos...nas rochas que me magoam o corpo...na solidão que me veste...no muro que me rouba a luz...no ocaso do meu olhar esculpido numa lágrima...gritando um lamento eterno e vão...sem resposta e sem mim...anoitecendo e amanhecendo...e eu vazia...e o tempo correndo e a vida esgotando-se...e eu sem nada e o meu corpo sem ti...e os meus dedos sem pele...e as minhas mãos tateando o vácuo...e os meus braços acorrentados...e os meus olhos chovendo lágrimas e o mar levando o meu lamento para tão longe da vida...para tão perto do nada.
É no escuro da minha alma...que os meus poemas dedilham um triste fado...que desagua no meu peito a tempestade de que sou feita...que me escrevo no silêncio de todos os gritos...que me dispo de mim para me vestir de ti...que me doiem os Dezembros do meu leito...os espinhos das minhas lembranças...os pesadelos onde repousam os meus fantasmas...os limbos onde a noite é mais noite...na mágoa que escorre do meu sono... pesadelo do meu sonho...no aconchego gelado do meu adormecer...na fria claridade do amanhecer. 
Doi-me o silêncio...doiem-me as palavras...doi-me o tempo...doi-me a vida...doi-me a solidão.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Por um momento apenas...


Por um momento apenas...queria ser rosa púrpura...fogo lento
Ser a ternura que me corre no corpo...musa eterna no teu olhar
Por um momento apenas...queria voar feliz nas asas do vento
Numa viagem sem regresso...ir à deriva numa noite sem luar

Por um momento apenas...queria deixar a minha sombra negra
Nas grades presas do destino...queria ser um sopro de ilusão
Por um momento apenas...vazia e nua a minha alma se entrega
Nas mãos frias do desengano...nas asas negras da escuridão

Por um momento apenas...queria inventar um corpo de fogo
Rasgar com as minhas mãos este vazio...desfazer as correntes
Abafar este meu grito...no mar de silêncio onde me envolvo
Afastar os fantasmas...libertar-me desta sombra que me prende

Por um momento apenas...queria abrir as asas à madrugada
Desfazer as renúncias...saciar a minha sede num leito de ilusão
Onde já ninguém me espera...na noite que me beija sufocada
Nos braços onde o vazio é o ninho onde adormece a solidão

Por um momento apenas...queria gritar à vida...estou aqui
Desfazer este silêncio que me doi...este frio que me magoa
Estas pedras que me ferem...esta dor que murmúra em mim
Este espinho que me rasga...esta prece que no meu peito ecoa

Por um momento apenas...queria no sonho esquecer a lucidez
Num livro em branco...escrever tudo o que fui tudo o que sou
Adormecer na sombra negra deste corpo...que a solidão desfez
Dizer às rosas do meu peito...que enfim esta alma descansou

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Quando um dia partir...


Quando um dia partir...no meu corpo levo as rosas que amei
Levarei o perfume do amor...num voo suave...irei com o vento
Quando um dia partir...sobre os restos do meu corpo caminharei
Irei além de mim...além da vida...transporei os degraus do tempo

Quando um dia partir...levarei no meu corpo rosas vermelhas
Abraçado pela noite das noites...além das nuvens...além de mim
Iluminado de pálida tristeza...voará na serenidade das quimeras
Quando um dia partir...levo as dores e com elas faço um jardim

Quando um dia partir...deixa a tua boca na minha...meu amado
Um toque suave que levarei...por entre as brumas desse caminho
Veste-me de lírios...de sedas e rosas...escreve-me um triste fado
Quando um dia partir...sepulto a dor... cumprirei o meu destino

Quando um dia partir...serei uma estrela cadente na noite escura
Uma gaivota nos céus...leve como uma pena...em silêncio voarei
Levarei no olhar um poema...nas minhas mãos restos de ternura
Quando um dia partir...os meus três amores no meu olhar levarei

Quando um dia partir...irei serena...levarei a planície no olhar
Nos meus cabelos rosmaninho...na boca um poema de amor
Não quero despedidas tristes...nem ninguém por mim a chorar
Quando um dia partir...espalhem as cinzas ao vento...ao luar

Quando um dia partir...percorram por mim os lugares que amei
Pensem apenas...que enfim voei para além de mim em liberdade
Que desenhei uma porta...que serenamente e em paz transporei
Quando um dia partir...na lápide escrevam...és enfim eternidade

sábado, 12 de novembro de 2011

Há tanto silêncio na noite...


Há tanto silêncio na noite...só a minha dor grita...apenas ela
Ampara o meu corpo...toca as minhas mãos...afaga meu rosto
Há tanto silencio na noite...nada me toca...nem a luz duma estrela
Nem um abraço vazio...nada...nem a sombra do meu desgosto

Há tanto silêncio na noite...e fantasmas vagando na escuridão
Tantos sonhos e pesadelos...tantos corpos sós e amordaçados
Tanta rua sem saída...tantos becos escuros e rostos na solidão
Há tanto silêncio na noite...tantos muros...tantos gritos calados

Há tanto silêncio na noite...tantos rostos macerados...tanto frio
Tantos leitos adormecidos...tantos lençóis tecidos de amargura
Há tanto silêncio na noite...tantos desejos...tantos lábios vazios
Tantas promessas...tantos sonhos amordaçados na noite escura

Há tanto silêncio na noite...e gestos vazios sobre os meus restos
Tantos momentos sem mim...tantas palavras sem voz e sem ti
Tantas cinzas que um dia foram fogo...e tantos ecos sem gestos
Tantos dias sem idade...tantos Invernos sem princípio nem fim

Há tanto silêncio na noite...tanta cruz...tanta vida em desalinho
Tantos restos ilusão...esperando em silêncio uma noite de amor
Tantos corpos despidos...tantos sonhos vencidos pelo destino
Há tanto silêncio na noite...e rosas sentindo o espinho da dor

Há tanto silêncio na noite...tantos desejos sem madrugada
Tantos Agostos sem sol...tanta nuvem...tantos céus infinitos
Tanto tempo sem tempo...tanta sepultura na terra esventrada
Há tanto silêncio na noite...tantos escuros e frios labirintos

Há tanto silêncio na noite...tantos gritos nus...tanto lamento
Tantas asas feridas...tanto sangue a escorrer de tanta pena
Tantos regaços vazios...tantas sombras negras...tanto vento
Há tanto silêncio na noite...tanta dor na rima deste poema



sábado, 5 de novembro de 2011

Queria Falar...


Queria falar-te da mágoa do meu olhar...do azul dos sonhos
Da ilusão...das promessas...do eco das mãos entrelaçadas
Do gole de silêncio que me embriaga nas noites de Outono
Do vazio que me gela...das sedas no meu corpo sepultadas

Queria falar-te das palavras que se arrastam mudas no chão
Dos meus desejos...dos cansaços...da mulher adormecida
Queria falar-te meu amor...da ausência e da minha solidão
Do meu leito sem mim...dos braços sem ti...da rosa ferida

Queria falar-te...dos sonhos desfeitos...das mãos vazias
Das gotas de chuva que correm tristemente do meu olhar
Da ausência que gela o meu corpo...das madrugadas frias
Das brumas...do sorriso e da mágoa...da noite e do luar

Queria falar-te da dor que cresce por dentro do meu peito
Do grito que calo...dos anseios...dos espelhos quebrados
Dizer-te das horas mortas que se aninham no meu leito
Das marés que afogam os gemidos...dos desejos sufocados

Queria falar-te das águas escuras que o meu corpo inundam
Da imensidão do mar...que leva os meus soluços...do amor
Do vazio dos meus braços...do abismo negro e profundo
Queria falar-te meu amor...dos gestos sem tempo...da dor

Queria dar-te o meu corpo...estender-te os meus braços
Falar-te dos meus sonhos e anseios...abrir o meu peito
Dizer-te das pedras do caminho...dos muros...dos laços
Dos meu segredos...dos meus medos...do meu frio leito