A noite me invade...o meu corpo anoitece...o meu leito arrefece
Parto de mim...ausente da vida...jazendo no chão dos meus passos
Parto de mim...ausente da vida...jazendo no chão dos meus passos
Sem rumo...sem norte...no olhar o silêncio...nos lábios uma prece
A noite me invade...tristemente a escorrer dos meus braços
A noite me invade...me assombra...despindo-me o amor da pele
Vestindo-me de segredos e medos...cravando-me de espinhos
Dentro de mim profundos abismos...desfeitos sonhos de papel
A noite me invade...e nela corre livre a dor do meu caminho
A noite me invade...nela jaz o meu corpo...só e amordaçado
Vagando à beira do precipicio...entre a luz e a sombra...morto
Num voo sem rumo...gaivota sem mar...um barco naufragado
A noite me invade...num mar revolto...num cais sem porto
A noite me invade...negro espaço no tempo...que me rasga
Que me queima...que me doi...que me solta e me prende
Deixa-me nua...devora-me a carne que me cobre a alma
A noite me invade...o meu pobre corpo ao cansaço se rende
A noite me invade...a ternura fez-se dor...o amor fez-se vazio
Num poema sem rima...num verso sem cor...num rosto sem vida
Num tempo sem tempo...num olhar sem luz...tão triste e tão frio
A noite me invade...a escuridão me cobre...o chão me dá guarida
A noite me invade...nuvem negra que me embala docemente
Num céu sem estrelas...num infinito sem luz...abismo sem fim
O vento fez-se tempestade...arrastando o meu corpo lentamente
A noite me invade...acordando os fantasmas que vivem em mim