Sou a penumbra...frágil sombra...vestida de noite
No meu rosto...traços de amargura...cinzas do tempo
E no meu corpo este silêncio...leve sopro de morte
Gravado no tempo...tatuado na alma...eterno lamento
Trago nas mãos tempestades...o inferno...e este vazio
Revolvo a terra...procuro na mulher...o raio e o trovão
Esqueço o que resta de mim...quase nada...apenas frio
Não tenho antes nem depois...apenas tempo e solidão
Sou mulher...trago as dores da terra...amordaçadas
Os anseios do futuro...as dores do passado...as lágrimas
Os segredos...os medos...de todas as mulheres caladas
Todas as promessas...todos os sonhos e todas as mágoas
Sou a voz do vazio...a tristeza...a penumbra da poesia
Sou a pedra do caminho...a folha negra dos meus passos
Sou o abandono...o silêncio da noite...a sombra do dia
Perdida entre o ser e o querer...o vazio dos meus braços
A minha voz calou-se...apenas o silencio grita...implora
Num poema derradeiro...num verso negro...amordaçado
Num peito sofrido...num coração que em mim chora
Desfeito o sonho...cala-se o pranto...num verso rasgado
Entre mim e a noite...os braços...gestos breves amargos
Não sei quem sou...nas entranhas da terra foi onde nasci
Trouxe nas mãos um poema...nos dedos...silêncios vagos
Sou filha de todos os instantes...sou o principio e o fim